domingo, 16 de novembro de 2008

Um moderado em dificuldades

Observo com algum desconforto a tendência das análises recentes sobre a situação política americana. A esmagadora maioria das opiniões divide-se em dois campos quase radicais. Um grupo exalta a vitória de Obama utilizando termos messiânicos, declarando que os problemas mundiais serão resolvidos em poucas semanas quando o novo Presidente tomar posse (os exemplos vão desde os artigos de Mário Soares às análises da maioria da Esquerda nacional).

Um outro grupo desvaloriza os resultados de 4 de Novembro, decreta como inevitável uma grande desilusão mundial e conclui que a Presidência de Obama está condenada ao desastre (quase toda a Direita e vários comentadores conhecidos como João Pereira Coutinho, Pulido Valente e Alberto Gonçalves).

Pergunto-me se no meio de todo este maniqueísmo ainda haverá espaço para moderados como eu, que reconhecem a Obama notáveis qualidades políticas e intelectuais, esperando por isso uma Presidência bem-sucedida em vários domínios, e que, simultaneamente, não só não acreditam em "mudanças" imediatas por decreto, como sabem que o complexo quadro internacional não permite soluções políticas absolutas e messiânicas.

7 comentários:

Nuno Pereira disse...

Caro JGA,
Agora que as eleições americanas tiveram o seu final e por sinal com um resultado que deixou o mundo a acreditar na mudança e principalmente na capacidade de um homem que inevitavelmente a levará para caminhos rodeados de esperança e fé, na concretização de uma vida melhor, para muitíssimos que a perderam (quase irreversivelmente) e milhões que a estão a ver fugir pelos dedos das mãos. Surgem os cépticos que já vaticinam uma grande desilusão mundial e conclui que a Presidência de Obama está condenada ao desastre.
Só que no meio destes dois lados, porque são sempre bem-vindos, já que o confronto de pontos de vista, mesmo de euforia por um lado e pessimismo de quem (não todos), estão neste mundo só para criticar autenticas pragas. Originam forçosamente a aparecer mais um lado de opiniões, dando espaço para os moderados.
E são esses moderados como eu, que acreditando em Obama desde o primeiro dia. Tem a noção da enorme responsabilidade que Obama carrega sobre os ombros.
Ainda mais com o significado da sua vitoria, que levou milhões e milhões de pessoas à euforia elevando Obama a um ser mítico, salvador de todos os problemas, quando o homem é um simples ser humano, embora com grandes capacidades politicas e intelectuais.
Portanto depois da euforia, mãos à obra e como diz Obama, a grave crise não se dilui de um momento para o outro e alertou que poderá de necessitar mais que um mandato presidencial, para reencaminhar a economia americana para os carris do sucesso de encontro à estabilidade de uma nação, que será o tónico essencial para todas as economias mundiais.
Resumindo, que ninguém pense que Obama terá todo o poder de elevar uma grave recessão económica de um dia para o outro!
Mas acredito piamente, que Obama será o único pelas suas características intelectuais e humanas que poderá inverter este ciclo que nos aglutina a vida. Basta ver, o empenho com que ele está a formar a sua equipa, rodeando-se de homens (mulheres) inteligentes, expert na matéria, mesmo tendo que recorrer a ouvir adversários de ontem, mas aliados no mesmo fim: A rápida fuga desta, até há bem pouco tempo incontrolada recessão, para a curto prazo apresentar os primeiros sinais da tão aguardada recuperação!

JF disse...

Sobre este assunto acho que Obama vai ser uma grande desilusão. Mas acho, também, que vai ser um dos maiores presidentes da história Americana.
Infelizmente, no estado em que as espectativas estão, afigura-se a desilusão para muita gente. Porque ele é humano!
Mas reconheço que ele tem capacidade, carisma e vontade para fazer muito pela América e ser considerado no futuro um dos grandes presidentes.

Anónimo disse...

Quem é o Alberto Gonçalves?

José Gomes André disse...

Obrigado, caros Nuno e jf, pelos vossos comentários. É bom saber que não estou sozinho nesta ideia de que os desafios são complexos, que existe potencial para alguma decepção, mas que Obama tem óptimas qualidades para enfrentar esses problemas. Em suma, é bom saber que há outros moderados por aí...!

Caro "q", o Alberto Gonçalves é um sociólogo que escreve na Sábado e no DN, autor de um dos artigos mais citados das últimas semanas sobre a vitória de Obama, onde, entre outras pérolas, referia que o racismo negro foi uma das principais causas do seu triunfo.

Por acaso é um cronista que gosto de ler, mas sobre as eleições americanas tem ideias estranhíssimas, ainda não percebi bem porquê.

Um abraço a todos!

Anónimo disse...

Há um aspecto muito importante nesta questão do racismo negro, e que as pessoas se esquecem: os afro-americanos votam de forma esmagadora no Partido Democrata desde os anos 60. Se não estou em erro, em 2004, a percentagem de votantes em John Kerry terá ultrapassado os 90 por cento. Não vi as exit polls deste ano, mas acredito que o valor este ano ainda tenha sido superior. Mas, não pode ser racismo, porque este grupo demográfico não mudou o seu comportamento eleitoral. A vantagem de Obama é que conseguiu aumentar a participação eleitoral dos negros, que costumava ser baixa. Mas para falarmos de voto racista, teríamos que ter tido um candidato negro do Partido Republicano. Se quisermos ir mais atrás, poderemos falar nesse voto nas primárias. Mas mesmo aí, de inicio Hillary apresentava-se quase empatada nos negros. Foi depois da campanha eleitoral da Carolina do Sul, e da prestação desastrosa de Bill Clinton, que Obama começou a ter o voto esmagador dos negros...

Abraço

PS: Em breve, poderemos ter um negro como chairman do RNC, Michael Steele. Eu acho que seria uma excelente opção para o GOP. O Partido Republicano já percebeu que não terá futuro se continuar a ser o partido dos WASP.

José Gomes André disse...

Interessantíssimo comentário, caro Nuno. Destaco dois aspectos importantes:

1) a ideia de que os negros votam há muito nos Democratas - o que é fruto obviamente das políticas sociais Democratas e de uma história de combate ao segregacionismo na década de 60 (com JFK e LBJ), e não de um racismo encapotado ou qualquer outra teoria rebuscada.

2) Com o surgimento em força das minorias (hispânicos, asiáticos e negros), e com uma nova geração tendencialmente mais progressista, o GOP terá de facto que repensar a sua posição em alguns domínios "étnicos" e sociais - se me é permitida a expressão... Em breve escreverei um post sobre o assunto.

Um abraço, caro Nuno!

Anónimo disse...

necessita di verificare:)