domingo, 30 de novembro de 2008

Resultados eleitorais: actualização

Quase quatro semanas depois do acto eleitoral, ainda não há resultados finais em várias disputas, nomeadamente na própria eleição presidencial. Este é sem dúvida um dos elementos mais peculiares - e de certa forma negativos - do sistema eleitoral americano, explicável quer pela existência de diversas leis estaduais (que em certas situações permitem contagens muito lentas), quer pelo sistema de recontagem, passível de ser accionado quando se verificam resultados muito equilibrados.

Subsistem assim dúvidas em três eleições para a Câmara dos Representantes: no 4º Distrito da Califórnia (onde o Republicano McClintock lidera por 632 votos, num universo total de 340 mil); no 15º Distrito do Ohio (o Republicano Stivers tem uma vantagem de 149 votos em 270 mil); e no 5º Distrito da Virgínia (o Democrata Periello lidera por 760 votos em 320 mil). Os casos da Califórnia e do Ohio seguem neste momento para uma recontagem, enquanto na Virgínia tudo depende da análise de vários "absentee ballots". No Senado prossegue igualmente a recontagem manual da aguerrida disputa entre Al Franken e Normal Coleman, mantendo-se este último (Republicano) ainda na frente.

Não há ainda também resultados finais na eleição presidencial, faltando contagens na Califórnia, Illinois e Nova Iorque. A contagem actual (segundo a CNN) confere 66,882 milhões de votos para Obama contra 58,343 de McCain. No Colégio Eleitoral o resultado final foi de 365-173, tendo o Missouri ficado para McCain e o 2º Distrito Congressional do Nebraska (1 voto) para Obama.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Citação do dia

"Over time, Thanksgiving, that most American of all holidays, became my favorite. I love the idea of dedicating a day to give thanks for our good fortune, our freedom and bountiful opportunities. So on this Thanksgiving, I want to thank [...] George Washington, and all the other founders for launching a nation that transforms former immigrants like me into citizens who can participate fully in the glorious enterprise that continues to be our United States of America.", Andrew Kadar, no Pittsburgh Post-Gazette.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Alterações climáticas e política ambiental

Esta intervenção em 17 de Novembro passou algo despercebida, mas refere-se na minha opinião a um tema crucial dos próximos anos. Obama compromete-se a romper com a Administração Bush, reavaliando os desafios inerentes às alterações climáticas e à política ambiental. Destacaria três ideias fundamentais:

1. "Os factos são claros". O debate científico pode e deve prosseguir, mas existe já um consenso razoável sobre as alterações climáticas, o efeito dos gases de estufa na atmosfera e as consequências da poluição na biosfera. Fingir que não possuímos ainda este conhecimento - como se tem feito nos EUA nos últimos anos - é negar a evidência, criando um obstáculo artificial e inútil à necessária busca de soluções.

2. A necessidade de uma dinâmica cooperativa entre diferentes entidades. O governo federal deverá empenhar-se no combate aos efeitos nocivos da poluição e da emissão de gases nocivos, mas o sucesso destas políticas depende da participação activa das autoridades estaduais, das empresas privadas e do cidadão comum. Por outro lado, é obviamente necessário obter acordos com os outros países, em particular as chamadas potências emergentes (Índia, China, Brasil, etc.).

3. Uma nova política ambiental pode ter efeitos positivos na economia real. Uma aposta séria nas energias renováveis e em tecnologias não-poluentes criará milhares de empregos nestas áreas - em investigação científica, processos de manufactura, publicidade, design, etc. - um benefício "colateral" muito relevante num momento de crise económica.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Chambliss vs. Martin

Daqui a uma semana (dia 2/12) decorre a segunda volta da eleição da Geórgia para o Senado federal. Na primeira volta, o incumbente Republicano Saxby Chambliss recolheu 49,8% dos votos, ligeiramente abaixo dos necessários 50% para obter o cargo. O Democrata Jim Martin ficou um pouco atrás, com 46,8%, adquirindo o direito de participar nesta segunda volta.

Chambliss é um Republicano sulista tradicional, alinhando com a orientação social conservadora do seu partido e defendendo o alívio fiscal como forma de estimular o progresso económico. Na sequência do 11 de Setembro defendeu o reforço da segurança interna e das medidas anti-terrorismo, tendo declarando uma guerra aberta contra o islamismo em geral (Chambliss afirmou mesmo que todos os muçulmanos que entrassem na Geórgia deveriam ser presos). Obteve o seu lugar em 2002 e é membro do Comité do Senado para a Agricultura e Assuntos Florestais desde 2005.

Jim Martin, de 63 anos, foi durante duas décadas membro da Câmara dos Representantes da Geórgia, tendo posteriormente desempenhado o cargo de Comissário de Recursos Humanos, na Administração estadual. Martin é um Democrata moderado, conhecido em particular pelas suas propostas reformistas nas áreas da saúde e dos benefícios sociais. Como seria de esperar, reúne a preferência das minorias, do voto feminino e do eleitorado urbano, uma coligação forte que lhe confere esperanças para o dia 2.

Em todo o caso, as sondagens indicam que Chambliss é o favorito, embora por uma ligeira vantagem (4,2% na média do Pollster). Numa eleição deste tipo a afluência às urnas é tipicamente baixa, pelo que o resultado final depende muito da capacidade de mobilização do eleitorado tradicional. Os Republicanos costumam ser especialmente eficazes neste campo, mas Martin procurará beneficiar da excelente organização de base construída por Obama nos últimos meses. O candidato Democrata seria igualmente beneficiado caso o Presidente-eleito fizesse campanha activa na Geórgia, mas Obama não pretende alienar capital político comprometendo-se abertamente numa corrida desfavorável ao seu partido.

Citação do dia

"In matters of foreign policy, it has been proved time and again, the Clintons are devoted to no interest other than their own. A president absolutely has to know of his chief foreign-policy executive that he or she has no other agenda than the one he has set. Who can say with a straight face that this is true of a woman whose personal ambition is without limit; whose second loyalty is to an impeached [...] president; and who is ready at any moment, and on government time, to take a wheedling call from either of her bulbous brothers? [...] What may look like wound-healing and magnanimity to some looks like foolhardiness and masochism to me.", Christopher Hitchens, na Slate.

A integração europeia e o caso americano

Os opositores ao alargamento e reforço da União Europeia utilizam com frequência o mesmo argumento: insolúveis diferenças entre os Estados-membros impedem um maior aprofundamento do processo de integração europeia. A diversidade geográfica, demográfica, cultural, religiosa, institucional e linguística dos países europeus impossibilita a criação de um laço político semelhante ou sequer próximo aos Estados Unidos da América.

Este argumento assenta num princípio falacioso, uma vez que ao contrapor o caso europeu ao exemplo americano assume que este último foi construído sobre um consenso generalizado. Ora, a diversidade – que os europeus tanto pretendem reclamar como sua propriedade exclusiva – era na verdade dominante entre os Estados americanos quando a sua União ganha forma.

As assimetrias geográficas e demográficas entre os Estados americanos eram gritantes. A Virgínia ocupava 1/6 do território e era cerca de sessenta vezes maior que Rhode Island. As distâncias eram impressionantes, num período em que a carroça era o meio de transporte mais utilizado. A maioria dos americanos vivia num meio rural, mas já havia grandes cidades (Filadélfia, Nova Iorque, Charleston). A população da Virgínia era doze vezes superior à da Geórgia. Em Filadélfia viviam mais pessoas do que em todo o Estado do Delaware.

Naturalmente, existiam riquíssimas diferenças culturais e religiosas. Oriundos de vários países europeus, os colonos trouxeram consigo múltiplas crenças e tradições. No Massachusetts predominavam os Puritanos, na Pensilvânia os Quakers, em Rhode Island os Baptistas, no Connecticut os Presbiterianos, na Virgínia os Anglicanos, em Maryland os Católicos. Existiam incontáveis seitas. Os costumes de um comerciante de Filadélfia e de um proprietário de Richmond eram tão diferentes que, não fosse o facto de ambos falarem inglês, dir-se-ia que seriam perfeitos estranhos.

A vida económica dos Estados americanos não podia ser mais díspar entre si. O Sul, esclavagista e aristocrático, vivia sobretudo da exportação de algodão e tabaco para a Europa. O Norte, industrial e empreendedor, apostava na pesca e nos bens manufacturados. As relações comerciais entre os Estados eram mínimas. Na verdade, dois terços das trocas ocorriam com a Grã-Bretanha e com a França. Não existia uma moeda comum.

As diferenças institucionais levariam um estudante de ciência política à exaustão. As constituições estaduais incluíam sistemas bicamarários e unicamarários, assembleias muito numerosas ou incrivelmente restritas. O poder executivo era conferido ora a um Governador nomeado pela Legislatura, ora a um Presidente eleito, ora a um conselho senatorial. A duração dos mandatos oscilava entre um e seis anos. O direito de voto variava de tal forma que em Nova Jérsia as mulheres votavam e na Geórgia um proprietário de pequena dimensão não o podia fazer.

Não havia um sistema judicial homogéneo. A educação estava a cargo dos condados e era igualmente díspar. Não existia um exército comum.Os Estados americanos nunca haviam conhecido qualquer tipo de vínculo político anterior aos eventos revolucionários e, de um modo geral, era estranho à população um sentimento propriamente nacional. Os indivíduos eram “habitantes dos Estados”. Falava-se da América e da revolução americana, mas a figura de um povo americano era uma ideia bizarra.

Em síntese, nos anos decisivos da fundação dos EUA (entre 1770 e 1790) existiam entre os Estados mais diferenças do que semelhanças. E, no entanto, essas divergências não impediram a criação da primeira república federal moderna. O que aconteceu, então? Empenho de um pequeno grupo de figuras públicas que arriscaram as suas carreiras estaduais porque sonhavam com uma grande nação. Crença num projecto que poderia conciliar as diferenças e harmonizar dinâmicas e interesses distintos. Vontade política, em suma.

Neste caso, o que falta à Europa? Essa mesma vontade política. Esse mesmo empenho. E a disponibilidade e honestidade intelectual para perceber que a diversidade não é um obstáculo, é uma benção.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A equipa de Obama (3)

Dois nomes foram anunciados nos últimos dias. Eric Holder foi escolhido para Attorney-General (o equivalente ao ministro da Justiça). Antigo juiz, serviu como Attorney-General Deputy (uma espécie de número dois no ministério da Justiça) na Administração Clinton e, a ser confirmado pelo Senado, tornar-se-á no primeiro afro-americano a ocupar aquela posição.

Obama escolhe não apenas uma figura de prestígio e experiência nesta área, como dá um sinal positivo à ala mais liberal do Partido Democrata que sempre o apoiou, uma vez que Holter defende posições francamente progressistas na área da justiça. Merecem destaque em particular as suas críticas à prisão de Guantanamo, ao Patriot Act, ao recurso à tortura e à suspensão de direitos constitucionais ou liberdades individuais em nome de "situações de excepção" (nomeadamente para salvaguardar a "segurança interna" ou acusar suspeitos de terrorismo).

Para o cargo de Secretário da Saúde e dos Serviços Humanitários Obama nomeou Tom Daschle, um antigo e experiente senador do Dakota do Sul (18 anos no Senado), e que liderou aliás a bancada senatorial Democrata durante três anos. Daschle não é um nome relevante na política de saúde, mas a sua escolha mostra que Obama pretende seguramente avançar com uma reforma significativa nessa área, necessitando por conseguinte de um hábil negociador e de um legislador com experiência no Congresso. Daschle parece ser assim com efeito o homem certo para garantir a aprovação de um pacote legislativo certamente polémico - algo que por exemplo a Administração Clinton foi incapaz de alcançar.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Notícias do senado: actualização

Duas semanas depois da eleição propriamente dita, já temos finalmente resultados oficiais do Alaska, com o Democrata Mark Begich a derrotar o incumbente Ted Stevens por escassos 3 mil votos (com 2500 ainda por apurar). Falava-se na hipótese de Stevens ser expulso do Senado (uma vez que foi condenado por corrupção e abuso de poder), o que abriria as portas a uma candidatura imediata de Sarah Palin, mas com o triunfo de Begich este cenário tornou-se agora impossível (pelo menos a curto-prazo).

O caucus Democrata do Senado (uma espécie de bancada parlamentar) conta agora com 58 senadores - tendo conquistado sete lugares aos Republicanos só nesta eleição - embora dois deles sejam independentes (Sanders e Lieberman). O caso de Joe Lieberman - um ex-Democrata que apoiou McCain - ficou ontem definido, com os senadores Democratas a votarem no sentido da sua continuidade no caucus Democrata, decidindo ainda que Lieberman mantivesse a liderança do Comité do Senado para a Segurança Interna. O apoio de Obama a esta solução terá sido decisiva para desbloquear a situação.

Com estes novos dados, os Democratas continuam a sonhar com a super-maioria de 60 senadores. Caso Al Franken vença a recontagem no Minesotta, todos os olhos ficarão postos na 2ª volta da eleição na Geórgia (2 de Dezembro), a qual opõe o Republicano Chambliss ao Democrata Martin. A campanha já está no terreno e prevê-se uma disputa muito equilibrada...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Como sempre (II): resposta a Henrique Raposo

O Henrique Raposo teve a gentileza de responder cuidadosamente ao meu texto, defendendo a tradição hamiltoniana e enunciando falhas conceptuais e políticas a Jefferson. Curiosamente, partilho algumas dessas ideias. O elogio à faceta hamiltoniana do sistema político americano: reforço das instituições federais, “liberalismo céptico”, dignificação do cargo executivo. A crítica ao pensamento revolucionário de Jefferson, assente numa visão convulsiva da história que teria seguramente destruído as conquistas de 1776. A denúncia do carácter romântico da concepção antropológica de Jefferson. E a referência a um erro político relevante – as “Kentucky Resolutions” (1798) – cuja dimensão secessionista terá obviamente inspirado trágicos acontecimentos posteriores.

Dito isto, continuo a discordar de alguns argumentos. Que eu saiba, Jefferson nunca foi “contra a formação do Supremo [Tribunal]”. Pelo contrário, numa carta a Madison (15/03/1789), Jefferson sublinhou a importância dos tribunais federais no novo edifício constitucional. O que Jefferson recusou foi a ideia de uma “política judicializada”, através da qual os tribunais se envolveriam na promoção de uma determinada agenda legislativa. Crítica essa que é aliás hoje reproduzida pela Direita americana, ironicamente.

Tenho também dúvidas na frase “Jefferson foi um adversário da Constituição”. Exceptuando o episódio de 1798, não encontro essa oposição. Pelo contrário. Jefferson elogiou o texto (igualmente em cartas a Madison), advogou um sistema federal (embora com maior peso nas estruturas de poder local) e serviu como Secretário de Estado, Vice-Presidente e Presidente sob essa mesma Constituição sem que a tenha procurado alterar através de disposições políticas ou legais. Aliás, a única vez em que isso aconteceu (aquando da Compra da Louisiana), foi no sentido de reforçar o poder executivo (dando-lhe competência para adquirir territórios).

Por outro lado, aquilo que motivou o meu texto inicial foi a expressão “Jefferson, como sempre, estava errado”. Eu percebo que se tratava de uma crónica, e não de um artigo académico. Mas em todo o caso, trata-se evidentemente de um exagero. Não por acaso, o Henrique Raposo não se referiu na sua resposta às propostas de Jefferson no campo da liberdade religiosa, do fomento da educação, ou da criação e defesa dos partidos políticos. É que realmente aí não há dúvida de que Jefferson estava certo...

Citação do dia

Já com alguns dias, mas excelente: «Havia o anarquista que dizia: “Hay gobierno? Soy contra!” Vasco Pulido Valente é assim mas à quinta casa. Diz: “Ah ele é isso? Sou contra!” [...] Ser vencido da vida é, para VPV, ser inteligente; ser optimista é próprio da choldra. VPV desdenhou Gorbachev [...], desdenhou Mandela porque o combate ao apartheid não ia lá com falinhas mansas. Há pouco, ele dizia Obama tolo por pensar que a América, evidentemente racista, o elegeria. Olha, parece que errou. Agora, diz: “Obama não é um salvador. É só o primeiro Presidente preto. O que, por enquanto, basta.” Olha, errou outra vez. Se Obama fosse só um Presidente preto não seria eleito. Um país não vota em alguém com uma só característica que é, por acaso, alheia a 87,2% dos votantes. Aquele hipocondríaco que acabou por morrer escolheu esta lápide: “Eu não dizia?” Um dia, VPV também acabará por ter razão. Até lá é lê-lo. Pelo estilo, que é soberbo.», Ferreira Fernandes, DN, via Notas ao Café.

domingo, 16 de novembro de 2008

Um moderado em dificuldades

Observo com algum desconforto a tendência das análises recentes sobre a situação política americana. A esmagadora maioria das opiniões divide-se em dois campos quase radicais. Um grupo exalta a vitória de Obama utilizando termos messiânicos, declarando que os problemas mundiais serão resolvidos em poucas semanas quando o novo Presidente tomar posse (os exemplos vão desde os artigos de Mário Soares às análises da maioria da Esquerda nacional).

Um outro grupo desvaloriza os resultados de 4 de Novembro, decreta como inevitável uma grande desilusão mundial e conclui que a Presidência de Obama está condenada ao desastre (quase toda a Direita e vários comentadores conhecidos como João Pereira Coutinho, Pulido Valente e Alberto Gonçalves).

Pergunto-me se no meio de todo este maniqueísmo ainda haverá espaço para moderados como eu, que reconhecem a Obama notáveis qualidades políticas e intelectuais, esperando por isso uma Presidência bem-sucedida em vários domínios, e que, simultaneamente, não só não acreditam em "mudanças" imediatas por decreto, como sabem que o complexo quadro internacional não permite soluções políticas absolutas e messiânicas.

Sarah Palin ridicularizada (II)

O NYT noticia que os rumores sobre a ignorância de Sarah Palin eram afinal falsos, tendo sido forjados por um "blogger", Dan Mirvish (na foto), que se fez passar por conselheiro da campanha Republicana. A FOX News continua a defender a sua posição inicial, afirmando que esta não foi a sua fonte, e que a notícia é verdadeira (nomeadamente a ideia de que Palin não sabia que África era um continente e não um país).

Reitero o que escrevi anteriormente. Não acredito nestas alegações. E julgo que Palin tem sido, em grande parte, vítima de uma agressiva e porventura injusta campanha negativa em vários media, baseada em ataques de carácter pouco dignos. A minha posição neste domínio é clara: considero que Palin foi uma péssima candidata e gostaria que não ocupasse nenhum cargo público relevante nos Estados Unidos. Não por causa de uma suposta falta de princípios éticos, mas porque discordo da sua orientação política em diversas áreas (ambiente, ciência, energia, política externa) e porque não suporto o seu discurso populista e anti-intelectualista.

Seria bom que as manifestações de apoio e oposição à Governadora do Alaska se concentrassem na análise desses mesmos princípios políticos, e não num permanente referendo à pessoa em questão.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Ainda as eleições americanas e o racismo

Este tema tem suscitado comentários bastante extremistas, havendo aqueles que durante meses afirmaram que o racismo dos americanos nunca permitiria a eleição de Obama, como outros que, depois da sua vitória, celebraram o fim do racismo nos Estados Unidos. Eu diria que nem uma coisa nem outra. E se a vitória de Obama no dia 4 foi uma boa demonstração de como a primeira ideia estava errada, o seguinte mapa pode ajudar-nos a compreender que esta última tese não é igualmente válida.


O mapa refere-se aos condados onde McCain teve melhores resultados que Bush em 2004. O que encontramos? Com as excepções óbvias - Alaska (Palin), Arizona (McCain) e Louisiana (ainda efeitos do Katrina) - esse crescimento eleitoral verificou-se quase exclusivamente numa longa faixa geográfica que incorpora a Appalachia (Virgínia Ocidental, Kentucky, Tennessee) e os conservadores Estados do Arkansas e do Oklahoma.

Tratam-se de Estados tipicamente Republicanos? Não. Vários Democratas ocupam posições políticas relevantes (a nível local, estadual ou federal) nestas regiões, e embora sejam recentemente fiéis aos Republicanos em eleições presidenciais, muitos destes Estados votaram por exemplo em Clinton em 92 e 96.

Tratam-se de Estados particularmente sensíveis à mensagem política de McCain? Não. Nenhum destes Estados tem economias saudáveis, pelo que o discurso contra os "interesses financeiros" e a favor dos cortes de impostos para os mais abastados não tem aqui grande ressonância. Além disso, são Estados com alguma pobreza, pelo que a "mensagem social" Democrata até poderia valer muitos votos...

O que está em causa não é um apoio particular a McCain, mas uma rejeição de Barack Obama - em especial pelo facto de ser negro. Estas são regiões muito conservadoras, com uma população pouco educada, tipicamente rural e avessa seguramente à ideia de um Presidente negro. Não por acaso foram Estados que deram vitórias claras a Hillary Clinton nas Primárias e onde as "exit polls" encontraram focos de racismo mais expressivos.

Em suma, a vitória de Obama mostrou que a América, como um todo, foi capaz de transcender os limites raciais e eleger um chefe de Estado de uma etnia minoritária (algo raro e notável); mas não devemos com isto concluir que não existem focos pronunciados de racismo nos Estados Unidos.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Resultados no Senado: actualização

No Alasca continuam a ser contabilizados os votos enviados por correspondência. Na contagem mais recente, o Democrata Mark Begich ultrapassou o Republicano Ted Stevens, liderando por 860 votos. Existem contudo mais de 20 mil votos por apurar, e caso o resultado seja inferior a uma margem de 0,5% de diferença, é provável que venha a ocorrer uma recontagem manual. O cenário é de indefinição e deverá permanecer deste modo por mais algumas semanas.

No Minesotta, a contabilização dos votos condicionados terminou, e o Republicano Coleman lidera por 200 votos. O Estado já deu ordem para que ocorra uma recontagem manual, mas como esta depende fundamentalmente de uma lógica interpretativa, Democratas e Republicanos enviaram para o Minesotta uma legião de advogados e observadores para garantirem que tudo decorre de forma legítima. Mas o facto de o Secretário de Estado do Minesotta (responsável pela supervisão do processo) ser Democrata tem levantado dúvidas entre os sectores Republicanos, que temem uma manipulação da recontagem a favor do Democrata Franken. O caos está instalado.

Citação do dia

"Sometimes presidential leadership means emphasizing progress for the whole and splitting ideological differences to get a deal. [...] But sometimes leadership consists of setting out moral goals that challenge the whole and transcend our differences. So the next president will also need high-level advisers who fight passionately to place social justice issues such as poverty on the agenda", Michael Gerson, no Washington Post.

Ciclo "Cultura e Política nos Estados Unidos"

Por esquecimento, deixei passar esta informação... Mas mais vale tarde do que nunca: já está disponível em formato áudio a conferência realizada no dia 30 de Outubro, na FNAC Vasco da Gama, dedicada às eleições americanas, e na qual tive o prazer de participar com uma intervenção sobre os fundamentos do sistema político e eleitoral nos EUA. Estiveram também presentes Pedro Magalhães (Professor no ICS e director do Centro de Estudos de Sondagens da UCP) e Patrícia Fonseca (jornalista da "Visão"), com moderação de Sara Pina (FLAD).

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Como sempre

Numa crónica no Expresso, Henrique Raposo elogia o seu "pai-fundador preferido", Hamilton, e aproveita para zombar de Thomas Jefferson, o qual, "como sempre, estava errado", escreve.

Errado quando redigiu a Declaração de Independência, anunciando uma nova ordem política e social, assente na ideia de que todos os homens nascem livres e iguais em direitos. Errado quando apelou à Providência divina para que zelasse pela causa revolucionária americana, a qual pretendia constituir um exemplo do triunfo dos direitos humanos, do ideal do autogoverno e da soberania popular para um mundo a braços com regimes opressores.

Errado quando criou a Lei da Liberdade Religiosa na Virgínia, definindo a liberdade de consciência como uma propriedade inviolável do sujeito e garantindo que todos os indivíduos pudessem exercer livremente o seu credo. Errado quando sugeriu a James Madison que elaborasse uma Carta de Direitos e a anexasse à Constituição federal, para que assim ficassem objectivamente salvaguardados uma série de direitos individuais, como a liberdade de religião, de imprensa e de expressão.

Errado quando criou o Partido Democrata, defendendo que a existência de instrumentos de vigilância e alternativas políticas eram essenciais para evitar abusos de poder e garantir que os cidadãos seriam devidamente representados nos órgãos políticos. Errado quando, como Presidente dos EUA, coordenou as negociações para a compra da Lousiana aos franceses, duplicando o território americano e abrindo as portas para o desenvolvimento do Oeste.

Errado quando criou a Universidade da Virgínia, advogando que a educação e a divulgação do conhecimento eram mecanismos decisivos para criar uma opinião pública esclarecida e empenhada. Errado quando defendeu a importância de se aprofundarem as estruturas de poder local, para permitir aos cidadãos uma participação mais activa na condução das políticas públicas.

Definitivamente, um currículo desprezível.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Resultados finais?

Uma semana depois das eleições, continuam a existir diversas indefinições. Na corrida presidencial, os 11 Votos Eleitorais do Missouri continuam por atribuir, devido à proximidade dos resultados (5 mil votos de diferença num universo superior a 2,9 milhões). Vários milhares de votos condicionais ("absentee votes") estão ainda por confirmar, pelo que o resultado oficial ainda não é conhecido. Mas McCain deverá ser o vencedor.

Também o caso do Nebraska continua por definir. Juntamente com o Maine, este é o único Estado que divide os seus Votos Eleitorais por "distritos congressionais" (3), cabendo ao vencedor do Estado na sua totalidade dois Votos Eleitorais. McCain teve uma clara maioria neste último parâmetro, ganhando também os distritos 1 e 3. Porém, os resultados do distrito 2 (que inclui a cidade de Omaha) são inconclusivos, dada a extrema proximidade entre Obama e McCain (o Democrata terá uma vantagem de mil votos em cerca de 280 mil). Algumas fontes indicam que Obama foi mesmo o vencedor deste Voto Eleitoral singular, mas ainda não existe uma decisão oficial.

Se estes cenários provisórios se confirmarem, Obama recolherá 365 Votos Eleitorais contra 173 de McCain, vencendo o voto popular por 7% (mais 8,1 milhões de votos do que McCain). Para quem continua a falar em "triunfo marginal", estes dados são reveladores...

No Senado permanecem dúvidas em dois casos: no Minesotta decorre uma recontagem automática (o Republicano Coleman beneficia de uma vantagem de 206 votos sobre Al Franken, mas existem 3 milhões de votos para analisar...); no Alaska, o Republicano Stevens, a braços com uma condenação judicial por corrupção, deverá ter vencido a eleição, embora não haja confirmação oficial. Afinal, fenómenos como o de Fátima Felgueiras não são um exclusivo português...

A equipa de Obama (2)

Já se fazem apostas em torno das nomeações para os cargos mais importantes da Administração. John Kerry, o senador do Massachusetts derrotado nas eleições presidenciais de 2004, é o mais falado para Secretário de Estado. A pasta dos negócios estrangeiros, na designação portuguesa, pode contudo também ser obtida por Chuck Hagel, um senador Republicano do Nebraska que apoiou Obama na campanha deste ano; bem como Richard Holbrooke, membro da Administração Clinton (embaixador dos EUA na ONU); ou ainda Bill Richardson, Governador do Novo México e também um antigo embaixador na ONU.

O cargo de Secretário da Defesa parecia em tempos um dos mais cobiçados, com o senador Jack Reed (Rhode Island) e o já referido Hagel bem posicionados. Todavia, nas últimas semanas vários órgãos de comunicação social afiançaram que o actual Secretário, Robert Gates, deverá permanecer no cargo, para impedir a existência de maior instabilidade na condução da política americana relativamente aos conflitos no Iraque e no Afeganistão.

Outros cargos muito falados nos últimos dias são o Secretário do Tesouro (sendo Timothy Geithner e Lawrence Summers, ambos ligados à bem-sucedida Administração Clinton, mencionados como favoritos a obter o lugar), Procurador-Geral (a Governadora do Arizona, Janet Napolitano, é o nome mais referido, mas Hillary Clinton não é uma hipótese a desconsiderar) e Conselheiro de Segurança Nacional (James Steinberg deve ficar com o cargo).

A equipa de Obama (1)

A curiosidade aumenta, naturalmente. Para já, conhecemos dois elementos importantes na Administração Obama. Rahm Emanuel será o chefe de gabinete (Chief of Staff), uma posição relevante no quadro político americano, pois trata-se de uma figura que coordena a acção de vários elementos da Administração, aconselha o Presidente e funciona como ponte entre o poder executivo e os órgãos legislativos.

A escolha de Emanuel - que ocupava o quarto lugar na hierarquia Democrata na Câmara dos Representantes - é importante porque coloca no topo da Administração um hábil negociador com experiência legislativa, prerrogativa fundamental para um Presidente que deseja adoptar políticas de ruptura em vários domínios. Todavia, o facto de Emanuel ser judeu e alinhar com a linha mais dura das posições israelitas suscitou duras críticas do mundo árabe e pode ser um obstáculo ao poder de negociação de Obama no Médio Oriente.

Robert Gibbs, o director de comunicações de Obama durante a campanha, transita para a Casa Branca na condição de Assessor de Imprensa do Presidente. Será o porta-voz da Administração, pelo que é provável que se torne um rosto mais ou menos familiar para os observadores portugueses.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Adeus Guantanamo?

A Time noticia que os conselheiros de Obama estão a trabalhar num plano para transferir dezenas de prisioneiros actualmente em Guantanamo para território americano. O estatuto singular destes detidos - e as acusações que sobre si recaem - exigiria contudo que os julgamentos seguissem igualmente condições peculiares.

Em todo o caso, esta medida dotaria os acusados de uma série de protecções constitucionais e legais que a situação actual lhes nega. Por outro lado, este seria sem dúvida um passo decisivo para encerrar definitivamente a prisão de Guantanamo e o estatuto ambíguo (para não dizer perverso) que a Administração Bush lhe conferiu: um espaço de detenção onde os prisioneiros não beneficiam de quaisquer direitos jurídicos.

Obama, que descreveu Guantanamo como "um triste capítulo da história americana", poderá assim eliminar um dos elementos que mais contribuíram para a erosão do capital simbólico dos Estados Unidos na ordem mundial. Uma decisão urgente e justa, que, a confirmar-se, enfurecerá a linha dura do Partido Republicano, mas ocupará muitos cabeçalhos elogiosos na imprensa americana e internacional...

Citação do dia

"So to everyone overseas I say: thanks for your applause for our new president. I’m glad you all feel that America «is back». If you want Obama to succeed, though, don’t just show us the love, show us the money. Show us the troops. Show us the diplomatic effort. Show us the economic partnership. Show us something more than a fresh smile. Because freedom is not free and your excuse for doing less than you could is leaving town in January.", Thomas Friedman, no New York Times.

domingo, 9 de novembro de 2008

E o que aconteceu no Congresso?

Naturalmente, a vitória de Obama ofuscou os resultos das eleições para o Congresso, mas estas merecem igualmente destaque. Devemos sublinhar de facto os diversos triunfos do Partido Democrata, que prosseguiu uma tendência iniciada nas eleições intercalares de 2006 e reforçou a sua presença no Congresso federal. Os Democratas conquistaram pelo menos 20 lugares (faltam decidir quatro disputas), tendo agora uma vantagem de 81 representantes (256-175) - a maior desde 1992.

O Partido Democrata conseguiu também recuperar seis lugares no Senado, composto actualmente por 55 Democratas, 40 Republicanos e 2 independentes (alinhados porém com os Democratas). Três eleições continuam por decidir. No Alaska, Ted Stevens (R) e Mark Begich (D) estão separados por cerca de 4 mil votos, mas ocorreram diversas irregularidades e o resultado oficial não é ainda conhecido. No Minesotta, Norm Coleman (R) e Al Franken (D) ficaram separados por 250 votos, num universo total de 2,5 milhões! Um desfecho impressionante que exigiu naturalmente uma recontagem automática. Por fim, na Geórgia será necessária uma segunda volta (marcada para 2 de Dezembro), uma vez que nenhum candidato obteve os necessários 50% dos votos (de acordo com a lei estadual).

Se os Democratas vencerem estes três lugares em disputa - o que, sendo improvável, não é impossível - chegariam ao número mágico de 60 lugares, que lhes permitiria usufruir de uma maioria confortável no Senado, imune à chamada "minoria de bloqueio". Este mecanismo, denominado filibuster, permite ao partido da oposição adiar votações de leis polémicas através de um processo de obstrução legislativa, que pode no entanto ser travado com o voto de 60 senadores. Daí ser tão importante para a maioria - e eventualmente para a Administração Obama - beneficiar desta vantagem numérica.

Sarah Palin ridicularizada

Era de esperar que o fim da campanha trouxesse algumas revelações bombásticas por parte da campanha Republicana. Não foi segredo que McCain e Palin tiveram uma relação difícil, e que em diversos momentos parecia que a Governadora do Alaska estava sobretudo a preparar a sua candidatura em 2012, mais do que a empurrar o "ticket" Republicano para uma eventual recuperação.

Em todo o caso, as notícias que vieram a público são especialmente graves. Membros do staff Republicano descreveram Palin como uma candidata totalmente impreparada, caprichosa, egoísta e desesperadamente ignorante. A Newsweek noticiou que Palin e a sua família terão gasto milhares de dólares em compras pessoais com fundos da campanha, e a FOX News referiu mesmo que a Governadora era uma nulidade em política externa - não sabendo sequer que África é um continente, e não um país.

É difícil saber se estas notícias são verdadeiras. Eu pessoalmente não acredito. Mas o simples facto de a opinião pública considerar seriamente aquela possibilidade diz bem da falta de credibilidade que rodeia a figura de Sarah Palin. Culpa sua, pela inépcia argumentativa revelada ao longo da campanha e pelo populismo e anti-intelectualismo que caracterizaram o seu discurso. E culpa de McCain, que deveria ter escolhido para parceiro (a) um candidato (a) mais sólido (a).

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Os erros de McCain

A conjuntura tornava uma vitória Republicana improvável. A crise económica; o fracasso da Administração Bush em vários domínios e o reforço do Partido Democrata numa série de segmentos eleitorais importantes favoreciam inicialmente Obama. Porém, McCain cometeu pelo menos quatro erros graves que muito contribuíram para a sua derrota.

1. Uma campanha inconsistente. O comportamento errático de McCain - por contraste com a tranquilidade de Obama - terá gerado dúvidas no eleitorado indeciso, perplexo pela forma como McCain reagiu a certas circunstâncias políticas essenciais, como por exemplo a crise financeira de meados de Setembro: elogiando primeiro os “alicerces” da economia, para depois se contradizer com afirmações sobre o estado calamitoso da situação; suspendendo a campanha para patrocinar um acordo no Congresso para o qual nada contribuiu; e ameaçando por fim faltar ao debate presidencial...

2. A escolha de Sarah Palin. A Governador do Alaska galvanizou a base Republicana, mas a sua ignorância sobre política externa, o seu conservadorismo extremado (contra o aborto mesmo em situações de incesto e violação, por exemplo) e o seu anti-intelectualismo (defesa do criacionismo; negação das alterações climáticas; guerra à ciência) alienaram muitos eleitores independentes. Demasiados, para que McCain pudesse ganhar Estados vitais como a Florida, o Ohio ou a Virgínia.

3. Flutuações temáticas. Qual era afinal a mensagem de McCain? Um “rebelde” político ou um exemplo de estabilidade? Um reformador ou um membro da elite de Washington? Um agente de mudança ou um político experiente e consolidado? Para além destas indefinições, a sua campanha foi excessivamente difusa na abordagem dos temas. Impostos, reformas, hipotecas, Wall Street vs. Main Street, segurança interna, independência energética, off-shore drilling, prosperidade económica, críticas à Rússia e ao Irão, aborto, ambiente. De tudo falou um pouco; mas nunca de forma suficientemente incisiva.

4. Erros estratégicos. McCain tinha muito menos dinheiro para gastar que Obama e por isso deveria ter gerido os seus recursos com maior ponderação. Compreende-se a tentativa de competir em vários Estados até ao início de Outubro, por exemplo. Mas como explicar os milhões de dólares investidos no Iowa, Wisconsin ou Pensilvânia – Estados que as sondagens há muito davam como perdidos? E por que votou McCain o Oeste ao abandono? – região onde além do mais podia conquistar os hispânicos (pelas suas posições moderadas no tema “imigração”). E como é possível os Republicanos terem investido na Florida zero dólares - zero - até ao início de Setembro?

Anti-Presciência

"If [Hillary Clinton] gets a race against John Edwards and Barack Obama, she's going to be the nominee. Gore is the only threat to her ... Barack Obama is not going to beat Hillary Clinton in a single democratic primary. I'll predict that right now.", Bill Kristol, 17 de Dezembro de 2006.

"And when you look at the serious questions that face us, whether it's energy or the economy, or the war on terror, I think John McCain's experience ends up being something that will win the race for him.", Rudy Giuliani, 6 de Agosto de 2008.

"[...] the common sense of Americans will override curiosity about Barack Obama and infatuation with his celebrity, and trust John McCain to pilot the country for the next four years. America is a great and good nation, and it will not turn itself over to a party in the grip of its hardest left cadres, its most corrupt machine and its least experienced nominee ever.", Hugh Hewitt, 3 de Outubro de 2008.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Presciência

"Barack Obama... Será necessário recordar este nome. [...] Observo os seus gestos de vadio magnífico cruzado de King of America. Torno a pensar no artigo em que li que Barack, em swahili, quer dizer «bendito». E sinto que alguma coisa, o que quer que ele diga, se joga nessa distância assumida em relação a todas as comunidades."

"O primeiro negro que compreendeu que já não era necessário apostar na culpabilidade mas na sedução? O primeiro a querer ser, não a censura da América, mas a sua promessa? A passagem do black em guerra para o black que tranquiliza e une? Um futuro presidente mestiço? Um bilhete de viagem, um dia, com Hillary? Ou o princípio do fim das religiões identitárias?"

[Bernard-Henri Lévy, Vertigem Americana, 2005].

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

América a votos: notas finais

5h30. Fico por aqui. Foi uma noite histórica e muito divertida, a título pessoal. Obrigado a todos que me seguiram. Nos próximos dias haverá oportunidade para dissecarmos alguns resultados e analisarmos as eleições. Contem comigo para o fazer!

5h28. Os Democratas conseguem maiorias confortáveis no Senado e na Câmara dos Representantes. Tendo em conta que em 2006 já tinham "roubado" lugares aos Republicanos, esse facto não deixa de ser notável.

5h24. Ainda não é certo, mas a Carolina do Norte e o Indiana devem cair para Obama, mesmo que por margens curtíssimas. O Ohio foi de facto a conquista decisiva, mas confirma-se a ideia de que Obama tinha diversos "caminhos para a vitória". Obrigar McCain a lutar em vários Estados e regiões - quando dispunha de vantagem financeira e organizativa no terreno - foi uma estratégia que pagou dividendos.

5h17. Parece que alguns comentadores portugueses, depois de desdenharem meses a fio as hipóteses de Obama, descobriram um novo desporto: relativizar a sua vitória. "Margens mínimas", escreve-se por aí. Alguns dados: Obama é o primeiro Democrata desde Jimmy Carter, em 1976, a ultrapassar 50% do voto popular. A sua contagem no Colégio Eleitoral deverá ser superior a 350 Votos Eleitorais (contra menos de 190 de McCain), mais 80 Votos do que conseguiu Bush em 2000 e 2004. Estima-se que Obama tenha ganho cerca de 5 milhões de votos a mais que McCain. Triunfo apertado? Margens mínimas? Maus fígados, diria antes.

América a votos (8)

5h13. Um final poderoso, como esperado. "Yes We Can". A referência às grandes conquistas dos Estados Unidos. "We shall overcome", Martin Luther King. Um discurso de esperança, de superação pessoal e nacional.

5h10. Um discurso muito interessante, embora sem ideias novas. Obama já fez o que tinha a fazer. O que será interessante nos próximos dias é avaliar a composição da Administração. Cá estarei para comentar essas escolhas.

4h57. Começa bem, com uma referência ao momento histórico que vivemos. E de novo as ideias-chave da sua campanha: um apelo à unidade do país, uma mensagem supra-partidária e o desejo de devolver aos EUA alguma da excelência perdida nos últimos anos.

4h55. Obama vai discursar em breve. Que ocasião incrível! Um negro, abandonado pelo pai, educado pelos avós, sem um passado de guerra, sem antepassados famosos, sem ligações ao poder, sem um passado político relevante, torna-se Presidente da maior potência do mundo...

4h47. Grandes derrotados da noite? A ala populista e nacionalista do Partido Republicano, incapaz de garantir vitórias até em Estados sulistas como a Florida, a Virgínia (e provavelmente a Carolina do Norte). Mark Penn, o estratega de Hillary Clinton, que escreveu há um ano "Barack Obama é inelegível. Nunca os americanos escolherão um candidato com o seu passado e o seu nome". Aqui no burgo? André Pessoa, provavelmente o mais radical e insensato comentador político que alguma vez escreveu na blogosfera.

4h46. Tudo aponta para que Obama ultrapasse os 50% do voto popular (contando os votos em toda a nação), o primeiro Democrata a consegui-lo desde 1976. Este facto é relevante porque reforça a legitimidade da sua vitória, podendo de certa forma silenciar algumas críticas mais ferozes dos seus opositores.

4h42. Loucura no Indiana e na Carolina do Norte. Obama lidera no primeiro por apenas 10 mil votos (num total de 2,5 milhões), com 97% dos votos apurados. E lidera também na Carolina do Norte por somente 25 mil votos (num total de 4 milhões), com 95% dos votos apurados. Se Obama vencer estes Estados, estamos perante um triunfo fabuloso no Colégio Eleitoral, próximo do que conseguiu Bill Clinton em 1992 e 1996.

4h39. Mais alguns dados: Obama vence no Colorado, Nevada e Novo México. Os hispânicos rejeitaram a ideologia Republicana, demasiado agressiva (quase xenófoba, na verdade) em relação à imigração.

América a votos (7)

4h35. Finalmente, uma opinião clarividente na CNN, por Gloria Borgen: "Obama não vai resolver todos os problemas, mas a sua vitória tem um peso simbólico extraordinário, e só isso muda muita coisa". Imaginem por exemplo o que pode significar para o mundo islâmico a ideia de que o Presidente americano é negro e se chama Barack Hussein Obama.

4h33. Uma nota referida múltiplas vezes esta noite por vários comentadores portugueses (na rádio, tv e net): Obama conseguiu uma boa vitória, mas os europeus vão desiludir-se rapidamente, pois nada vai mudar. Subscrevo a crítica à messianização de Obama, mas a sua Administração pode e deve ajudar a resolver problemas cruciais do nosso tempo como a política ambiental, a dependência energética e a instabilidade no Médio Oriente. Quando Roosevelt, Kennedy e Reagan chegaram à Casa Branca também se disse que nada iria mudar. Sabemos o que aconteceu depois...

4h28. Um emocionado apelo de McCain para que a América lute contra as adversidades. Muito interessante também a sua tentativa de fazer com que os seus apoiantes aceitem a "Presidência de Obama". Como era de esperar, silêncio ou assobios. Vai ser difícil digerir esta derrota para os Republicanos, obviamente.

4h26. McCain elogia Palin. A multidão reage com sentimentos mistos. Ela conseguiu entusiasmar a base, mas alienou muitos independentes. Nunca o poderemos saber, mas parece-me que com Romney ou mesmo Liebermann os Republicanos teriam mais hipóteses do que com a populista do Alaska.

4h19. McCain discursa e concede a derrota. Um candidato honrado, um político íntegro, um pensador moderado e consistente. Mas não conseguiu derrotar um adversário "larger than life". Que pena McCain não ter sido eleito em 2000 no lugar de George Bush...

4h15. Demorei um pouco mais do que pensava. E para minha irritação suprema, o "Blogger" apagou-me um post com múltiplas observações. Vou procurar recuperar o essencial: Obama vence na Costa do Pacífico, como esperado, e ganha oficialmente a eleição. A Virgínia, 44 anos depois, volta a preferir um Democrata. E a Florida, sempre no centro das atenções, também vai para Obama.

América a votos (em directo da TSF) (6)

3h00. Termino por aqui na TSF e vou para casa. Continuo daqui a alguns minutos.

2h58. Obama já lidera na Virgínia, Carolina do Norte e Florida. E no Indiana está bem lançado, pois faltam os resultados num condado muito populoso que favorece os Democratas.

2h49. Luís Nuno Rodrigues chamou a atenção para uma questão central de uma futura Presidência Obama: a revolução ao nível da política energética. Parece-me que Obama vai estimular as indústrias não-poluentes, incentivando uma "nova economia" e uma política ambiental em tudo oposta a George Bush.

2h46. Esqueci-me de dizer, mas Obama venceu no Novo México. A comunidade hispânica terá sido decisiva.

O próximo Presidente dos EUA


América a votos (em directo da TSF) (4)

2h39. A luta na Florida, Virgínia e Carolina do Norte e no Indiana é tremenda. As diferenças não permitem antever um vencedor nas próximas horas. Dados actuais: Virgínia (McCain +1); Carolina do Norte (Obama +1); Florida (Obama +3); Indiana (McCain +1).

2h37. Não vos quero tirar a emoção, mas não há caminho para McCain chegar à Casa Branca...

2h29. Problemas técnicos impediram-me de escrever, mas estou de volta. E com notícias cruciais. Obama venceu no Ohio e com isso ganhou a eleição.

América a votos (em directo da TSF) (3)

2h11. Depois de uma paragem para um croquete, ainda nenhuma novidade fundamental. Obama venceu no Midwest (Michigan, Minnesota, Wisconsin). McCain levou o Dakota do Norte.

1h59. Daqui a um minuto, fecham as urnas em mais uma dezena de Estados.

1h54. As possibilidades de os Democratas chegarem aos 60 lugares no Senado são quase nulas. As vitórias Republicanas no Kentucky e na Geórgia reduziram drasticamente essas hipóteses.

1h51. Geórgia para os Republicanos. Obama deu luta, mas a tendência conservadora do Estado acabou por prevalecer. Olhos postos no Ohio, Florida e Virgínia.

1h38. Confirma-se que a Pensilvânia foi ganha por Obama. Amanhã serão muitos os que criticarão a estratégia de McCain, que investiu milhões no Estado, desconsiderando outros Estados decisivos.

1h37. 50% dos votos apurados no Indiana. McCain lidera por 3%, mas ainda é cedo para termos certezas.

1h33. João Carlos Barradas sublinha uma questão-chave: primeiro vencedor da noite - as empresas de sondagens. Até agora, nenhuma surpresa. Resultados sempre próximos das médias projectadas nas últimas semanas.

1h30. McCain ganha o Alabama e o Arkansas. Mais que esperado.

1h28. McCain parece ter descolado no Indiana (5% de vantagem), mas ainda não temos dados do condado de Lake (pró-Obama).

América a votos (em directo da TSF) (2)

1h24. Obama está muito atrás na Virgínia, mas faltam os votos de regiões fortemente Democratas, como os condados nos subúrbios de Washington.

1h20. Com o cenário actual, Obama venceria a eleição se ganhasse a Florida ou o Ohio. Muita atenção aos dados destes Estados. Para já, Obama está lançado na Florida (lidera por oito pontos, com 23% dos votos apurados).

1h17. A FOX News e a ABC dão o New Hampshire a Obama. Um Estado onde o carisma de McCain não foi suficiente para inverter a onda Democrata.

1h13. Manuela Franco salienta duas questões centrais desta eleição: a celebração de cidadania extraordinária que caracterizam as corridas eleitorais nos EUA; e a singularidade do processo político na América.

1h10. A ABC também dá a Pensilvânia para Obama. McCain tem nesta altura menos de 5% de hipóteses de vencer esta eleição.

1h08. A NBC dá a Pensilvânia a Obama. Se tal suceder, é um rude golpe nas possibilidades de McCain.

1h00. Um batalhão de resultados. Mas nenhuma surpresa. Obama vence claramente no Nordeste (Nova Jérsia, Delaware, Connecticut, D.C., Massachusetts, Maine, Maryland) e no seu Estado do Illinois. McCain vence o Tennessee e o Oklahoma. Ninguém arrisca previsões na Florida nem na Pensilvânia.

0h55. Momento muito interessante aqui na TSF. O maior elogio da noite a Obama? Nobre Guedes, do CDS-PP. A Direita portuguesa também cedeu ao encanto de Obama.

0h52. A SkyNews dá a Carolina do Sul para McCain. Seria escandaloso se tal não sucedesse. Este é um dos Estados mais conservadores dos Estados Unidos.

0h50. Daqui a dez minutos fecham as urnas em 15 Estados. Cruciais: Pensilvânia e Florida.

0h46. O Indiana vai ser renhidíssimo até ao fim. McCain lidera por 16 mil votos, com 20% dos votos apurados. O condado de Lake (cidade de Gary), pela proximidade de Chicago, poderá dar a vitória a Obama. Mas isto só se saberá daqui a muito tempo, creio.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

América a votos (em directo da TSF) (1)

0h42. Virgínia Ocidental para McCain. Obama chegou a ter bons resultados em algumas sondagens, mas recentemente os Republicanos voltaram a surgir na frente. Desfecho natural, num Estado rural da Appalachia, região muito conservadora, terreno favorável aos Republicanos.

0h38. Indefinição em múltiplos Estados. Esperado, por esta altura. Continuo a considerar que os momentos decisivos surgirão por volta da uma, uma e meia da manhã.

0h27. Os resultados do Indiana estão muito equilibrados. Com cerca de 13% dos votos apurados, McCain lidera por 3%. Uma derrota Republicana neste Estado seria fatal para as aspirações de McCain.

0h22. Daqui a oito minutos fecham as urnas no Ohio e na Carolina do Norte. Mas é provável que sejam declarados "too close too call"...

0h19. Há unanimidade na sala. Todos consideramos Obama claramente favorito.

0h10. Resultados de Bush em 2004: Geórgia (+17); Indiana (+21); Carolina do Sul (+17); Virgínia (+8). O facto de estes Estados não estarem definidos por esta altura é por isso um indicador relevante.

0h05. Kentucky (8 Votos Eleitorais) para McCain. Vermont (3) para Obama. Mais do que esperado.

0h02. Virgínia, Geórgia, Indiana e Carolina do Sul, "too close too call". Quatro Estados que votaram Bush em 2004 por enormes vantagens. Para já, McCain não tem razões para sorrir.

23h51. Os primeiros dados gerais via sondagens à boca das urnas são claramente favoráveis a Obama: 62% dos votantes disse que o tema que consideraram essencial para o seu voto foi a economia. Por outro lado, estamos perante recordes de afluência. Os jovens e os afro-americanos devem ser uma razão crucial para esta ocorrência. E nestes segmentos eleitorais já sabemos quem ganha de forma clara...

23h41. Já existem alguns resultados, mas nada de conclusivo. Daqui a quinze minutos fecham as urnas no Indiana e na Virgínia. Talvez já possamos saber qualquer coisa de interessante por essa altura.

23h34. Já cheguei à TSF. O ambiente é bom, mas algo tenso. Muita ansiedade na sala.

Cai o pano

Para quem - como eu - vem acompanhado o processo eleitoral americano diariamente, o dia de hoje traz sentimentos ambivalentes. Por um lado, uma alegria extraordinária por ter assistido, comentado e vivido de perto (por vezes quase obsessivamente) esta corrida fabulosa, que começou há mais de um ano. Desde a luta nas Primárias até ao mano-a-mano Obama/McCain, estes últimos meses foram de facto pródigos em momentos emocionantes.

Por outro lado, há a inevitável desilusão de saber que o processo termina aqui. Não há mais debates entre estes dois excepcionais candidatos, não há mais sondagens para analisar, não há mais comícios inflamados. Vai ser difícil desligar a ficha, confesso. Mas essa é, afinal, a natureza das coisas. Hoje, termina um ciclo. Amanhã começa outro. Que traga experiências tão emotivas e formidáveis como o que agora finda - eis o meu desejo.

McCain ainda pode ganhar a eleição?

Pode. Mas necessita da combinação de pelo menos três ocorrências:

1. Uma aproximação a Obama que se verifique a um nível nacional (recuperações regionais já não são suficientes), tornando os Estados agora equilibrados ou ligeiramente pró-Obama em vitórias marginais Republicanas. Refiro-me em particular ao Missouri, Carolina do Norte, Indiana, Montana e Dakota do Norte.

2. Se as sondagens estiverem correctas, McCain precisa de vencer cerca de 70% dos indecisos para poder ganhar o Ohio e a Florida, onde tem surgido sistematicamente atrás de Obama. É uma tarefa difícil, mas não impossível, pois os indecisos poderão preferir o candidato mais "tradicional" e "seguro" ao inexperiente Obama. Sem o Ohio e a Florida, McCain não chega à Casa Branca.

3. McCain necessita ainda de uma formidável operação de mobilização para contrariar o favoritismo de Obama na Virgínia, Colorado e Nevada. Sem vencer estes três Estados é praticamente impossível que McCain vença a eleição (como expliquei aqui, penso que a Pensilvânia é um objectivo inviável para os Republicanos). Em todo o caso, as desvantagens actuais nesses três Estados (entre 5 e 8 pontos) exigem um verdadeiro golpe de teatro.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Boletim meteorológico para amanhã

Miami, Florida: sol; máxima 28 graus, mínima 18.
Arlington, Virgínia: céu pouco nublado, máx 18, mín 13.
Toledo, Ohio: sol; máx 20, mín 13.
Scranton, Pensilvânia: céu nublado; máx 13, mín 9.
St. Louis, Missouri: sol; máx 23, mín 12.
Des Moines, Iowa: sol, máx 20, mín 12.
Denver, Colorado: sol; máx 20, mín 2.

Bom tempo, portanto. Ausência de chuva. Temperatura amena. Vários estudos indicam que os Democratas tendem a ser menos disciplinados na mobilização de voto (sobretudo os jovens e os afro-americanos), pelo que o mau tempo é usualmente prejudicial às pretensões do Partido Democrata. Neste cenário, ao invés, parece que Obama tem razões para sorrir.

Noite eleitoral

Programa em duas partes, suponho. Primeiro, estarei na TSF a comentar a eleição e os dados que forem chegando dos Estados Unidos, entre as 23.15 e as 2 da manhã. É difícil prever se ficarei por lá (vai depender de quão longa for a dúvida na América). Não posso também garantir se conseguirei escrever para o blogue a partir dos estúdios. Porém, em condições normais volto a tempo de postar aqui algumas observações sobre a noite eleitoral...

Citação do dia

"It's been a campaign of halting starts and dazzling flameouts, of historic firsts and dispiriting sameness. [...] Candidates strode in, poised to seize the spotlight, and slunk quietly from the stage.Now the longest and costliest presidential campaign in American history, which delivered so little certainty and so much passion, promises a definitive end. [...] But for all those exhausted by the race, many more remained transfixed.", James Rainey, The 2008 presidential campaign has been like no other (LA Times).

Quando fecham as urnas?

O Pedro Magalhães (via Swing State Project) oferece-nos este fantástico mapa. O fuso horário indicado é o Eastern Time (Costa Leste). Para considerar a hora portuguesa, basta somar 5 horas ao número referido no mapa. Destacaria quatro elementos:

1. O primeiro momento de interesse poderá surgir à meia-noite portuguesa, com o fecho das urnas na Virgínia e em todo o Indiana. Se for declarada vitória de Obama na Virgínia, é um excelente sinal para os Democratas. Se a par disso o Indiana for considerado "too close too call", quereria provavelmente dizer que Obama estava a comportar-se muito bem a nível nacional, tornando-se plausível uma vitória expressiva.
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2. Meia hora depois, Ohio e Carolina do Norte. Dificilmente haverá um vencedor declarado apenas com base nas sondagens à boca da urna ("exit polls"). Se tal acontecesse e Obama fosse o vencedor, os Democratas teriam um pé e meio na Casa Branca.

3. A hora-chave, a meu ver, será entre a uma e a uma e meia da manhã. Nessa altura já teremos por certo resultados finais na Virgínia e Indiana; estaremos bem encaminhados no Ohio, Carolina do Norte e Florida; e devemos ter projecões e alguns dados sólidos na Pensilvânia. Estamos a falar de 107 Votos Eleitorais e de quase todos os Estados sobre os quais ainda recaem dúvidas. Se Obama ganhar a Florida, game over. Se Obama tiver ganho quaisquer outros dois Estados (excepto Indiana + Virgínia), game over. Noutro cenário, teremos que esperar pelo Iowa e pelo Oeste (CO, NM, NV) - ou seja, até pelo menos às 2.30-3 da manhã.

4. No caso da eleição ter sido equilibrada, mesmo que haja uma previsão clara de que Obama acabará por vencer, o anúncio oficial nunca deverá ocorrer antes das 4 da manhã, i.e., quando as urnas fecharem na Costa do Pacífico. Refiro-me à Califórnia, Oregon e Washington: é fácil prever que estes 73 Votos Eleitorais pertencerão a Obama, mas será necessário esperar oficialmente pelo fecho das urnas para declarar o resultado final da eleição.

Momento de humor (II)

Eu sei que os elementos das campanhas não podem mostrar sinais de fraqueza e devem manter-se fiéis à "narrativa" do candidato/partido, mas o conselheiro de McCain, Charlie Black, parece ter ido longe demais:

"McCain is in a good position to win every red state," Black said. "Plus he is probably going to win Pennsylvania and Iowa".

McCain vai "provavelmente ganhar a Pensilvânia e o Iowa"? A sério? Obama lidera em todas as sondagens feitas na Pensilvânia desde o final de Abril. Estou a falar de 62 sondagens (RCP), excluindo as tracking polls (se as incluísse seriam mais de 150 sondagens sempre com Obama na frente). O Iowa conta a mesma história: McCain nunca liderou uma sondagem pública no Iowa (mais de 40 estudos de opinião). McCain pode ganhar estes Estados - notem bem - mas se o fizer será sempre uma enorme surpresa, e não fruto de uma situação "provável".

Quanto à ideia de que McCain está "numa boa posição para ganhar todos os red states", fico-me por um sorriso e uma pergunta: quais são as hipóteses matemáticas de McCain ganhar todos os Estados que Bush venceu em 2004? Mais facilmente eu ganho o Euromilhões...

domingo, 2 de novembro de 2008

Siglas e símbolos

Os adversários de Andrew Jackson, Presidente Democrata entre 1828 e 1836, dirigiam-lhe fortes ataques pessoais, chamando-o de Jackass (“burro”). Em 1837, Jackson surgiu num cartoon de um jornal montado num burro, que representava o Partido Democrata. Anos mais tarde, em 1870, o cartoonista Thomas Nast recuperaria esta imagem, identificando o burro com os Democratas, tendo ficado esse animal como símbolo do partido.

Nesse mesmo ano, e por via do seu lugar primordial na vida política americana, o Partido Republicano foi alcunhado de Grand Old Party. Desde então a sigla GOP é utilizada com frequência para designar os Republicanos. Também na mesma época, Thomas Nast representava o Partido Republicano como um poderoso elefante que tudo destruía à sua passagem – sublinhando assim a sua hegemonia nos EUA. Por conseguinte, o elefante é hoje o símbolo dos Republicanos, embora o partido nunca o tenha reconhecido oficialmente.

[Pub.]

O "Público" de hoje, Domingo, contém um artigo que tive o prazer de redigir sobre a formação das coligações eleitorais e a sua importância na política dos EUA. Deixo aqui um pequeno excerto, para abrir o apetite:

"A sociedade norte-americana é caracterizada por uma grande diversidade étnica, cultural, económica e religiosa. Este facto obriga os dois principais partidos políticos a funcionarem como pólos aglutinadores de interesses variados – construindo aquilo que se designa usualmente nos Estados Unidos como «coligação eleitoral»".

sábado, 1 de novembro de 2008

Pensilvânia, Pensilvânia

Não se fala de outra coisa: e se a estratégia de McCain de apostar tudo neste Estado der certo? Três notas:

1. É natural que as sondagens mostrem uma aproximação de McCain. Há algumas semanas que temos visto diferenças superiores a dez pontos, mas o Estado tende a ser muito equilibrado (Kerry ganhou por 2,5%, Gore por 4,2). Por outro lado, este é o Estado onde os Republicanos investiram mais dinheiro e onde McCain e Palin realizaram um maior número de comícios. Por fim, algumas características da Pensilvânia (PA) favorecem os Republicanos (nomeadamente a existência de vastas zonas rurais e a orientação social conservadora de boa parte da população).

2. Todavia, há igualmente factores que tornam improvável a vitória de McCain. A Pensilvânia, embora um "Estado volátil", votou Democrata nas últimas quatro eleições presidenciais. Os subúrbios de Filadélfia, antes terreno favorável aos Republicanos, estão agora repletos de famílias de classe média delapidadas pela crise financeira. Joe Biden é natural de Scranton, e as suas raízes modestas penetram bem no eleitorado mais desfavorecido. Filadélfia é um bastião Democrata. E por último, o registo partidário favorece Obama de forma expressiva: este ano registaram-se 4 milhões de Democratas, 2.9 milhões de Republicanos e 800 mil independentes.

3. Mesmo que McCain superasse estes problemas, há um dado importante a considerar: vencer a Pensilvânia, por si só, não garante a eleição. E a verdade é que ao concentrar quase exclusivamente os seus recursos neste Estado, McCain desvalorizou outros campos de batalha potencialmente decisivos. Deixo-vos apenas com quatro cenários mais que plausíveis, nos quais Obama perde a Pensilvânia e ganha a eleição.

A: "Estados Kerry" (excepto PA) + Iowa + Novo México + Florida.
B: "Estados Kerry" (excepto PA) + IA + NM + Ohio + Colorado.
C: "Estados Kerry" (excepto PA) + IA + NM + Virgínia + North Carolina.
D: "Estados Kerry" (excepto PA) + IA + NM + VA + Colorado + Nevada.

Momento de humor

Eis a forma como o comentador ultra-conservador da FOX News, Bill O'Reilly, vê nesta altura a corrida presidencial. Absolutamente anedótico...

Se eu fosse conselheiro de Obama

Retribuindo o desafio do Nuno Gouveia, junto-me agora momentaneamente à campanha de Obama. E começo por congratular o staff, porque até agora tudo tem sido conduzido com uma precisão e competência notáveis... Algumas pequenas ideias para manter a vantagem:

1. O maior inimigo dos Democratas neste momento é a convicção de que a corrida está decidida. Obama devia inundar os canais nacionais com anúncios apelando à mobilização dos eleitores. Poderia ser muito eficaz utilizar imagens da eleição de 2000 (sobretudo com referências à derrota na Florida por 530 votos) e terminar com a pergunta: "Do you want this to happen again?".

2. Ignorar os ataques Republicanos, que serão previsivelmente violentos nos últimos dias. Assumir uma postura presidenciável. Falar da economia, da economia e da economia.

3. Como escrevi antes, julgo que a Florida, a Virgínia e o Colorado são a chave desta eleição. Portanto, agendava os três dias da seguinte maneira: Hillary, Al Gore e Biden na Florida; Bill Clinton nos subúrbios de Washington (em particular Fairfax County e Prince William County - juntos têm quase 20% da população da Virgínia); Obama no Colorado durante o fim-de-semana , fechando a campanha na Virgínia.