sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Importantes sinais

McCain continua a defender-se na Carolina do Norte, na Virgínia, no Ohio, na Florida. Quatro Estados que Bush venceu em 2000 e 2004. Obama, pelo contrário, vai lançar anúncios televisivos no Arizona, no Dakota do Norte e na Geórgia. Recordo apenas os resultados nestes Estados em 2004: Bush venceu no Arizona por 11%, no Dakota do Norte por 27% e na Geórgia por 17%. Isto diz muito sobre o estado actual da corrida presidencial.

Citação do dia

"[...] it's surprising that a candidate [McCain] who cherished his reputation as a serious man and an independent thinker would wage this kind of campaign. Yes, that has played to the GOP base, just as Bush's politics have, but it's left independents unmoved, while detracting from McCain's supposed strengths.", Scott Lehigh, The Boston Globe.

Se eu fosse conselheiro de McCain

Um pequeno exercício: elaborar uma estratégia para os últimos quatro dias de campanha. Talvez já venha tarde, mas a meu ver seriam uma forma de pelo menos aproximar McCain de Obama:

1. Regressar de forma inequívoca a um discurso moderado, recuperando a imagem de McCain como um político independente. Condenar os elementos populistas e mais radicais da agenda Republicana, que contaminaram a sua campanha nas últimas semanas.

2. Assumir o compromisso de cumprir apenas um mandato. Agitaria a corrida; teria enorme atenção dos media; e reforçava a mensagem suprapartidária e não-eleitoralista. Insistir pois na ideia de uma Presidência singular, quatro anos para implementar reformas impopulares, mas necessárias para salvar o país, sem recear ser condenado pelos eleitores em 2012. Country First.

3. Obter um apoio de renome, com enormes credenciais políticas e que ajudasse a convencer os indecisos. Condolleezza Rice seria o nome ideal: poderia criar dúvidas no eleitorado afro-americano e feminino, e relançaria a credibilidade da candidatura de McCain.

4. McCain não pode aparecer em todos os Estados competitivos, por isso é lógico que abandone os que estão a ter sondagens ligeiramente acima da sua média nacional - Estados que acabarão por pender para o seu lado caso recupere de uma forma geral. Em sentido contrário, a Pensilvânia é caso perdido. A Flórida e o Ohio são demasiado grandes para aparições de última hora. Já a Virgínia e o Colorado são absolutamente decisivos e McCain não lhes tem dado a importância devida. Eu agendaria visitas para Fairfax County e Richmond (Virgínia) sexta-feira e no fim-de-semana. Segunda-feira partia para o Colorado e divida o par: McCain nos subúrbios de Denver; Palin em Colorado Springs, a motivar a base Republicana.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

American Stories, American Solutions

Eis o anúncio televisivo de trinta minutos ontem exibido em sete canais nacionais americanos. Segundo as notícias, terá custado entre 3 a 6 milhões de dólares. Contudo, ninguém duvida da eficácia deste género de publicidade, bem demonstrativo da capacidade financeira de Obama e da excelente organização da sua campanha.

A meu ver, a mensagem poderá ter impacto junto dos indecisos e dos cidadãos que, por várias razões, têm estado algo afastados do processo eleitoral, apresentando numa belíssima síntese o núcleo essencial do programa político de Obama e da sua história "pessoal".

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

E se houvesse um empate?

O facto de estarem em disputa 538 Votos Eleitorais permite a possibilidade de um empate a 269 entre os dois candidatos. A hipótese de uma tal ocorrência é inviável (o analista de sondagens Nate Silver estima que ela é inferior a 1%), mas não impossível: consideremos por exemplo que Obama vence todos os "Estados de Kerry" em 2004 (excepto o New Hampshire), juntando-lhe o Iowa, o Colorado e o Novo México/Nevada e teríamos esse empate a 269.

Nesta circunstância, o desempate caberia à nova Câmara dos Representantes (i.e., aquela que for eleita nestas mesmas eleições de 4 de Novembro). Importa contudo notar que esse voto seria exercido por Estados, e não por cabeça. Quer isto dizer que tanto a Califórnia (53 representantes) como o Alaska (1 representante) valeriam apenas um voto, de acordo com uma maioria de preferências dos seus representantes.

Em qualquer dos casos, Obama seria muito provavelmente escolhido para a Presidência, uma vez que os Democratas têm neste momento uma maioria de representantes em 26 Estados, contra 21 Republicanos (em três casos há um empate); e as projecções apontam para um reforço do poder Democrata na Câmara dos Representantes em 4 de Novembro.

Citação do dia

"America has been living in a dream world for the past few years, losing its basic values of thrift and prudence and living far beyond its means, even as it has lectured the rest of the world to follow its model.", Francis Fukuyama, em The American Conservative.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Florida, Virgínia, Colorado

Estes parecem-me ser os três Estados mais importantes nesta eleição presidencial. Todos eles foram ganhos por Bush em 2000 e 2004, e é praticamente impossível que McCain chegue à Casa Branca sem repetir a façanha.

A Florida (27 Votos Eleitorais) é o Estado sulista mais ecléctico, onde os Democratas têm uma base de apoio forte, sobretudo na região de Palm Beach (no Sudeste do Estado). Os eleitores mais idosos e os hispânicos de origem cubana são usualmente fiéis aos Republicanos, mas a presença de Biden no ticket Democrata pode alterar o sentido de voto dos primeiros. A Florida foi ganha pelos Republicanos em 6 das últimas 7 eleições; uma derrota de McCain neste importante Estado (o quarto maior dos EUA) torna absolutamente inviável uma vitória geral na eleição. Média das sondagens recentes: Obama lidera por 2,7%.

A Virgínia (13 Votos Eleitorais) é um bastião Republicano; o último Democrata a vencer o Estado foi Lyndon Johnson em 1964. Porém, o crescimento exponencial dos subúrbios de Washington (D.C.) trouxe novos residentes para o norte da Virgínia, com preferências eleitorais fortemente Democratas. Este facto, aliado à existência de uma grande comunidade afro-americana, torna a Virgínia propensa a um triunfo de Obama. Ora, neste caso, os Democratas nem precisariam de olhar para outros tradicionais “campos de batalha”: bastar-lhes-ia vencer os mesmos Estados que em 2004 (252 VE) e juntar o Iowa (7 VE) ou o Novo México (5 VE) à contabilidade final, para ultrapassar os necessários 270 Votos Eleitorais. Média das sondagens recentes: Obama lidera por 7,3%.

O Colorado (9 VE) está praticamente na mesma categoria que a Virgínia. Tendencialmente Republicano (desde 1964 só votou Democrata em 1992), parece ser um território favorável a Obama, devido ao crescimento de Denver, cuja área metropolitana – socialmente progressista – agrega metade da população total do Estado. Além do mais, os habitantes do Colorado valorizam especialmente a protecção ambiental (um trunfo de Obama) e viram com agrado a escolha da sua capital para sede da Convenção Nacional Democrata deste ano. Mesmo que perca na Virgínia e em todos os outros Estados equilibrados no Leste, uma vitória de Obama no Colorado – acompanhada da “coligação Kerry” e dos já referidos Iowa e Novo México (quase garantidos por Obama) – equivale a um triunfo Democrata na eleição geral. Média das sondagens recentes: Obama lidera por 6,2%.

O que pensa Obama?

Uma das críticas frequentes que se fazem a Obama é de que não se conhece o seu programa político nem as suas posições sobre uma série de temas políticos e sociais. Pois bem, a resposta a esta crítica pode ser encontrada na obra Uma História Americana - Os melhores discursos de Barack Obama (Esfera do Caos, 18,80 euros).


Este livro reúne um conjunto de vinte e uma intervenções públicas do candidado Democrata à Casa Branca, nas quais se pronuncia sobre política externa, terrorismo, a Guerra do Iraque, reformas educativas, política ambiental, a ligação entre religião e política, reformas económicas, o problema dos conflitos entre raças nos Estados Unidos, pesquisa científica, cuidados de saúde, o estatuto dos veteranos de guerra e a segurança social, entre outras questões.

Esta obra é uma excelente porta de entrada para o pensamento político de Obama, assente numa visão progressista da sociedade (que deriva, em boa parte, da tradição política americana clássica – iluminista, racionalista e humanista) e num projecto suprapartidário que pretende devolver aos Estados Unidos alguma da sua excelência ofuscada nos últimos oito anos. Para o alcançar, Obama propõe uma aposta forte na educação e no reforço das medidas de cariz social esquecidas pela Administração Bush, defendendo também uma política externa com um maior pendor multilateral, procurando alcançar compromissos internacionais através da força da diplomacia, e não pela diplomacia da força.

A edição portuguesa, na qual tive o prazer de participar como revisor científico, é prefaciada por Viriato Soromenho-Marques e inclui uma longa introdução de David Olive, que nos dá conta da história pessoal e política de Obama numa série de textos complementares aos discursos propriamente ditos.

Agenda

Quinta-feira, dia 30 de Outubro, realiza-se na FNAC Vasco da Gama, às 18.30h, uma série de conferências/debates sobre "O jogo eleitoral norte-americano". Terei o prazer de estar presente com uma comunicação intitulada "Características e fundamentos do sistema político e eleitoral norte-americano". Participam também Pedro Magalhães (director do Centro de Estudos e Sondagens da UCP), Patrícia Fonseca (jornalista da "Visão") e Sara Pina (FLAD, moderadora).

Prelúdio

Faltam oito dias para as eleições americanas, que elegerão um novo Presidente, uma nova Câmara dos Representantes e cerca de um terço do Senado. É o ponto de partida para este blogue, que no entanto pretende ir além da noite de 4 de Novembro. Espero transformá-lo num espaço de reflexão e informação sobre a política norte-americana, quer na sua dimensão histórico-filosófica, quer em relação aos principais eventos da actualidade.