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Dito isto, continuo a discordar de alguns argumentos. Que eu saiba, Jefferson nunca foi “contra a formação do Supremo [Tribunal]”. Pelo contrário, numa carta a Madison (15/03/1789), Jefferson sublinhou a importância dos tribunais federais no novo edifício constitucional. O que Jefferson recusou foi a ideia de uma “política judicializada”, através da qual os tribunais se envolveriam na promoção de uma determinada agenda legislativa. Crítica essa que é aliás hoje reproduzida pela Direita americana, ironicamente.
Tenho também dúvidas na frase “Jefferson foi um adversário da Constituição”. Exceptuando o episódio de 1798, não encontro essa oposição. Pelo contrário. Jefferson elogiou o texto (igualmente em cartas a Madison), advogou um sistema federal (embora com maior peso nas estruturas de poder local) e serviu como Secretário de Estado, Vice-Presidente e Presidente sob essa mesma Constituição sem que a tenha procurado alterar através de disposições políticas ou legais. Aliás, a única vez em que isso aconteceu (aquando da Compra da Louisiana), foi no sentido de reforçar o poder executivo (dando-lhe competência para adquirir territórios).
Por outro lado, aquilo que motivou o meu texto inicial foi a expressão “Jefferson, como sempre, estava errado”. Eu percebo que se tratava de uma crónica, e não de um artigo académico. Mas em todo o caso, trata-se evidentemente de um exagero. Não por acaso, o Henrique Raposo não se referiu na sua resposta às propostas de Jefferson no campo da liberdade religiosa, do fomento da educação, ou da criação e defesa dos partidos políticos. É que realmente aí não há dúvida de que Jefferson estava certo...
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