Este tema tem suscitado comentários bastante extremistas, havendo aqueles que durante meses afirmaram que o racismo dos americanos nunca permitiria a eleição de Obama, como outros que, depois da sua vitória, celebraram o fim do racismo nos Estados Unidos. Eu diria que nem uma coisa nem outra. E se a vitória de Obama no dia 4 foi uma boa demonstração de como a primeira ideia estava errada, o seguinte mapa pode ajudar-nos a compreender que esta última tese não é igualmente válida.
O mapa refere-se aos condados onde McCain teve melhores resultados que Bush em 2004. O que encontramos? Com as excepções óbvias - Alaska (Palin), Arizona (McCain) e Louisiana (ainda efeitos do Katrina) - esse crescimento eleitoral verificou-se quase exclusivamente numa longa faixa geográfica que incorpora a Appalachia (Virgínia Ocidental, Kentucky, Tennessee) e os conservadores Estados do Arkansas e do Oklahoma.
Tratam-se de Estados tipicamente Republicanos? Não. Vários Democratas ocupam posições políticas relevantes (a nível local, estadual ou federal) nestas regiões, e embora sejam recentemente fiéis aos Republicanos em eleições presidenciais, muitos destes Estados votaram por exemplo em Clinton em 92 e 96.
Tratam-se de Estados particularmente sensíveis à mensagem política de McCain? Não. Nenhum destes Estados tem economias saudáveis, pelo que o discurso contra os "interesses financeiros" e a favor dos cortes de impostos para os mais abastados não tem aqui grande ressonância. Além disso, são Estados com alguma pobreza, pelo que a "mensagem social" Democrata até poderia valer muitos votos...
O que está em causa não é um apoio particular a McCain, mas uma rejeição de Barack Obama - em especial pelo facto de ser negro. Estas são regiões muito conservadoras, com uma população pouco educada, tipicamente rural e avessa seguramente à ideia de um Presidente negro. Não por acaso foram Estados que deram vitórias claras a Hillary Clinton nas Primárias e onde as "exit polls" encontraram focos de racismo mais expressivos.
Em suma, a vitória de Obama mostrou que a América, como um todo, foi capaz de transcender os limites raciais e eleger um chefe de Estado de uma etnia minoritária (algo raro e notável); mas não devemos com isto concluir que não existem focos pronunciados de racismo nos Estados Unidos.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
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4 comentários:
Estes mapas também podem querer dizer alguma coisa (sobretudo o segundo).
«mas não devemos com isto concluir que não existem focos pronunciados de racismo nos Estados Unidos.»
Excelente, esta análise!
Mas, deixe-me acrescentar: em toda a Europa, Portugal incluído,tal fenómeno existe. Só não sei se ainda mais acentuado.
Caro Miguel, obrigado pelos mapas. Servem de excelente complemento ao argumento que aqui descrevi..
Caro Jg, obrigado pelo comentário. E claro que subscrevo o que disse: há racismo na Europa, em Portugal e nos EUA. Mais acentuado em terras lusas? Creio que é impossível medir uma situação dessas, até porque tem diversas ramificações sociológicas, e não apenas políticas. Um abraço!
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