sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Os erros de McCain

A conjuntura tornava uma vitória Republicana improvável. A crise económica; o fracasso da Administração Bush em vários domínios e o reforço do Partido Democrata numa série de segmentos eleitorais importantes favoreciam inicialmente Obama. Porém, McCain cometeu pelo menos quatro erros graves que muito contribuíram para a sua derrota.

1. Uma campanha inconsistente. O comportamento errático de McCain - por contraste com a tranquilidade de Obama - terá gerado dúvidas no eleitorado indeciso, perplexo pela forma como McCain reagiu a certas circunstâncias políticas essenciais, como por exemplo a crise financeira de meados de Setembro: elogiando primeiro os “alicerces” da economia, para depois se contradizer com afirmações sobre o estado calamitoso da situação; suspendendo a campanha para patrocinar um acordo no Congresso para o qual nada contribuiu; e ameaçando por fim faltar ao debate presidencial...

2. A escolha de Sarah Palin. A Governador do Alaska galvanizou a base Republicana, mas a sua ignorância sobre política externa, o seu conservadorismo extremado (contra o aborto mesmo em situações de incesto e violação, por exemplo) e o seu anti-intelectualismo (defesa do criacionismo; negação das alterações climáticas; guerra à ciência) alienaram muitos eleitores independentes. Demasiados, para que McCain pudesse ganhar Estados vitais como a Florida, o Ohio ou a Virgínia.

3. Flutuações temáticas. Qual era afinal a mensagem de McCain? Um “rebelde” político ou um exemplo de estabilidade? Um reformador ou um membro da elite de Washington? Um agente de mudança ou um político experiente e consolidado? Para além destas indefinições, a sua campanha foi excessivamente difusa na abordagem dos temas. Impostos, reformas, hipotecas, Wall Street vs. Main Street, segurança interna, independência energética, off-shore drilling, prosperidade económica, críticas à Rússia e ao Irão, aborto, ambiente. De tudo falou um pouco; mas nunca de forma suficientemente incisiva.

4. Erros estratégicos. McCain tinha muito menos dinheiro para gastar que Obama e por isso deveria ter gerido os seus recursos com maior ponderação. Compreende-se a tentativa de competir em vários Estados até ao início de Outubro, por exemplo. Mas como explicar os milhões de dólares investidos no Iowa, Wisconsin ou Pensilvânia – Estados que as sondagens há muito davam como perdidos? E por que votou McCain o Oeste ao abandono? – região onde além do mais podia conquistar os hispânicos (pelas suas posições moderadas no tema “imigração”). E como é possível os Republicanos terem investido na Florida zero dólares - zero - até ao início de Setembro?

2 comentários:

Nuno Pereira disse...

Caro JGA,
A sua análise está correcta e esclarecedora, nos pontos em que McCain cometeu erros, mas com erros ou sem erros, McCain perdia estas eleições, não havia volta a dar!
Na minha opinião, a grande vitória de Obama foi quando venceu Hillary Clinton!
Foi a vitória da consagração de Obama para presidente. A vitória que mexeu com a sociedade americana, levando-a a acreditar no surgimento de um homem diferente (de cor), para, por incrível que pareça, comandar os destinos da grande nação americana.
Porque vencer um opositor favorito (Hillary Clinton), com as grandes figuras a ampará-la, como o marido, Al Gore, entre outros de renome. Conferiram-lhe à partida uma vitória que com o decorrer da campanha seria um dado adquirido.
Mas nada se passou como Hilary sonhava e conforme os dias avançavam, avançava também a confirmação de Obama e a custosa renúncia de Hillary, incrédula com a derrota.
A partir daqui é McCain que surge no caminho de Obama!
Sinto que McCain, depois de umas primárias cedo resolvidas, preparou-se para enfrentar Hillary e nem pensou em Obama. Deixou correr o tempo e quando se mentalizou que Obama venceria, correu em busca de argumentos para o enfrentar, mas um pouco tarde para o derrotar!
McCain sentiu que a América podia optar por um presidente de cor, porque mais cedo ou mais tarde as barreiras infernais que mancham um país serão ultrapassadas. E usou a arma que melhor sabia manejar! O herói em que os americanos o tornaram. O seu amor à pátria vincado nos imensos e terríveis dias que passou em cativeiro. E vezes sem conta onde se encontrasse repetia com um apego, uma emoção, que contagiava os apoiantes que o escutavam. As peripécias angustiantes porque passou na guerra do malfadado Vietname.
Mas como todos presenciamos, não chegou!
Nada que McCain usasse como um golpe de magia, ou um trunfo só ao alcance dos predestinados. O levaria à Casa Branca.
A conjuntura americana no seu todo, era-lhe bastante desfavorável. E tinha o seu dedo no engrossar da grave crise que os Americanos atravessam e infelizmente todos nós!
Os erros que menciona, são já, penso eu, quase de desespero em conseguir inverter a tendência negativa da sua campanha perante Obama.
Tenta tudo por tudo e neste “sufoco”, os erros são mais evidentes e quando se perde, eles vem à tona e são escalpelizados até à exaustão.
Nada melhor do que analisar o discurso de McCain quando se deu por vencido. Onde demonstrou pelo opositor uma postura assinalável, aconselhando os seus apoiantes a olharem para Obama como o seu presidente.
Senti aqui que McCain já se tinha dado como vencido muitos dias antes. Se não! Um homem que acredita piamente na vitória, luta por ela até ao último segundo e quando a derrota surge como um dado adquirido, sente um desconsolo bem lá no fundo que o impede de elogiar o adversário (é a natureza humana), embora o felicite como é aconselhável.
Portanto vitória, vitória foi vencer Clinton! Porque até aí, poucos ou nenhuns analistas vaticinavam o percurso deste homem que a história irá se encarregar de perpetuar. O chegar a presidente vem das suas enormes capacidades, que essa vitória despontou e das capacidades físicas (cor), que finalmente quebraram um infernal tabu que martirizou todo o ser humano de cor ao longo de duzentos anos.
E cá para nós, que agora toda a gente nos pode ouvir! Todos os analistas e projecções americanas vaticinavam a vitória para Obama.
Porque mudar era fulcral para a AMÉRICA e o mundo!
Quem muda Deus ajuda! E como diz Obama no seu discurso de vitória. “….Sim, somos capazes. Obrigado. Que Deus vos abençoe. E que Deus abençoe os Estados Unidos da América.

José Gomes André disse...

Obrigado pelo comentário, Nuno. Subscrevo o que disse! Sem dúvida que a conjuntura era muito desfavorável a McCain. A economia, o desemprego, as guerras impopulares, Bush... Os Democratas eram claramente favoritos e não é por acaso que venceram não só a Casa Branca, mas também as duas câmaras do Congresso.

A vitória de Obama sobre Clinton ficará para a história como uma das mais improváveis de sempre. Uma campanha muito bem organizada; segurança e confiança na mensagem; mobilização no terreno (sobretudo naqueles Estados que tinham caucus e não primárias): eis alguns dos trunfos de Obama. Foi realmente impressionante...

Um abraço!