quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Como sempre

Numa crónica no Expresso, Henrique Raposo elogia o seu "pai-fundador preferido", Hamilton, e aproveita para zombar de Thomas Jefferson, o qual, "como sempre, estava errado", escreve.

Errado quando redigiu a Declaração de Independência, anunciando uma nova ordem política e social, assente na ideia de que todos os homens nascem livres e iguais em direitos. Errado quando apelou à Providência divina para que zelasse pela causa revolucionária americana, a qual pretendia constituir um exemplo do triunfo dos direitos humanos, do ideal do autogoverno e da soberania popular para um mundo a braços com regimes opressores.

Errado quando criou a Lei da Liberdade Religiosa na Virgínia, definindo a liberdade de consciência como uma propriedade inviolável do sujeito e garantindo que todos os indivíduos pudessem exercer livremente o seu credo. Errado quando sugeriu a James Madison que elaborasse uma Carta de Direitos e a anexasse à Constituição federal, para que assim ficassem objectivamente salvaguardados uma série de direitos individuais, como a liberdade de religião, de imprensa e de expressão.

Errado quando criou o Partido Democrata, defendendo que a existência de instrumentos de vigilância e alternativas políticas eram essenciais para evitar abusos de poder e garantir que os cidadãos seriam devidamente representados nos órgãos políticos. Errado quando, como Presidente dos EUA, coordenou as negociações para a compra da Lousiana aos franceses, duplicando o território americano e abrindo as portas para o desenvolvimento do Oeste.

Errado quando criou a Universidade da Virgínia, advogando que a educação e a divulgação do conhecimento eram mecanismos decisivos para criar uma opinião pública esclarecida e empenhada. Errado quando defendeu a importância de se aprofundarem as estruturas de poder local, para permitir aos cidadãos uma participação mais activa na condução das políticas públicas.

Definitivamente, um currículo desprezível.

7 comentários:

Unknown disse...

Realmente, nesse artigo do Expresso alguém estava errado (como sempre?).

José Gomes André disse...

Como sempre talvez não, caro Rui. E eu até aceitava facilmente algo como "Jefferson, com quem eu não concordo em nada" ou algo do género... Agora ver o Henrique Raposo a "fazer história" com pretensões de investigador sem seriedade intelectual é que soa um bocadinho a tolice. Abraço!

Unknown disse...

O parentesis foi uma tentativa falhada de ironia!

André, o campos disse...

Creio ser normal que os mais desatentos confundam a personagem Jefferson. Gosto de pensar em Jefferson como uma espécie de "Rousseau americano": algumas opiniões discutíveis coexistindo com autênticos rasgos de genialidade. Junto com Ben Franklin (ambos por acaso da Virginia e com vasta experiência europeia), terá sido (daí a semelhança com Rousseau) entre os pais-fundadores dos EUA a personagem mais "larger than life"...

José Gomes André disse...

Sem dúvida, caro André! Um verdadeiro homem do Renascimento (arquitecto, biólogo, político, filósofo, botânico), com posições bastante extremistas nalguns casos (sobretudo nos elogios revolucionários), mas "errado como sempre" é que não...

P.S. Apesar de ser uma figura extraordinária e com algumas semelhanças com Jefferson, o Benjamin Franklin era natural de Filadélfia (Pensilvânia)!

Abraço!

André, o campos disse...

Obrigado pela tua correcção, Masterblogger. De facto, ela só vem demonstrar o que é intrinsecamente verdadeiro, que devemos ficar calados sobre o que não conhecemos bem.

Pensilvânia, sem dúvida. Mas, de acordo com o melting pot de informação que é o Wikipédia, nascido em Boston e só mudado para Philadelphia aos 17 anos. Natural nem da Virgina nem da Pensilvânia, mas do Massachussets: imagine-se!

José Gomes André disse...

Olha, também me enganei... O que só mostra que o termo "especialista" é muito perigoso... Obrigado pelos teus comentários, caro amigo! Escreve sempre que quiseres, pá!