quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Em banho-maria
Citação do dia
The president-elect is proving to be an elusive and frustrating target. He has defied attempts to be framed ideologically [...] [and] his cabinet picks have won wide praise.", Adam Nagourney, New York Times.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Resultados eleitorais: actualização
A situação do Senado permanece mais confusa. Por um lado, continua a decorrer a recontagem no Minnesota, com um comité independente a analisar uma série de boletins de voto "contestados" pelas duas candidaturas principais. As últimas notícias indicam que o Democrata Al Franken beneficia de uma ligeira vantagem (cerca de 250 votos em 2,9 milhões), mas ainda não há quaisquer certezas nesta batalha eleitoral épica.
Por outro lado, existe uma série de vagas para preencher através de nomeação directa. Referimo-nos aos lugares de Obama (Illinois), Joe Biden (Delaware), Hillary Clinton (Nova Iorque) e Ken Salazar (Colorado), uma vez que estas quatro personalidades irão ocupar cargos na Administração federal. Têm sido avançados vários nomes (com destaque para o de Caroline Kennedy representando potencialmente Nova Iorque), mas também aqui não há ainda confirmações oficiais.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Adeus Guatanamo? (2)
A concretizar-se esta ideia, Obama enviaria um importante sinal para a opinião pública e para a comunidade internacional, rompendo claramente com as práticas da Administração Bush no domínio dos direitos humanos e das liberdades constitucionais, marcadas por abusos e violações sistemáticas.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Deus e a América
Neste complexo aglomerado, sobressai contudo um pequeno episódio, que dá conta como poucos do que realmente esteve em causa quando os Pais Fundadores criaram a República americana: a ideia que a ordem constitucional deve remeter-se ao silêncio no domínio da religião, a qual cabe apenas à consciência dos indivíduos.
Conta a lenda que, pouco depois de deixar a Convenção de Filadélfia, Alexander Hamilton (participante na elaboração da Constituição) foi abordado por um pastor protestante em Nova Iorque, que lhe perguntou por que motivo a Constituição não aludia à existência de Deus. A resposta de Hamilton vale por todos os tratados deste mundo: “Indeed, sir, we forgot it”.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Bush (quase) agredido
Na última viagem como Presidente ao Iraque, George W. Bush foi presenteado com um interessante par de sapatos, lançado por um jornalista iraquiano. Bush conseguiu desviar-se da ameaça, num belo golpe de rins, mas dificilmente poderá escapar às críticas pelos gravíssimos erros cometidos em território iraquiano desde 2003.
Citação do dia
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Sobre os deputados faltosos
Num sistema onde vinga a disciplina partidária – esse mecanismo absurdo que nega toda a lógica política e ética – os deputados são meros figurantes, a quem se pede sobretudo obediência, e não exactamente um juízo próprio. Neste aspecto muito podíamos aprender com os Estados Unidos, onde existem naturalmente dinâmicas partidárias, mas onde a ponderação e a opinião individual de um deputado são tidos como valores intocáveis.
Por outro lado, enquanto os modelos eleitorais portugueses insistirem na votação “por listas”, nunca o povo poderá directamente punir os deputados incapazes (faltosos ou presentes), que apenas se devem preocupar em agradar às cúpulas partidárias – e assim garantir uma presença na “lista”, se possível em “lugar elegível”. Para quando círculos uninominais, criando uma verdadeira proximidade entre representantes e representados?
E já agora (chamem-me utópico), por que não reproduzir um dos elementos mais notáveis do sistema político norte-americano – a existência de eleições primárias? Desse modo retirar-se-ia aos partidos o controlo absoluto sobre as nomeações políticas para cargos ao serviço do povo, obrigando os candidatos a dirigirem-se, não já às “famigeradas sedes partidárias”, mas directamente aos eleitores. Sobre este tema, afirmava em 1912 um dos grandes progressistas da história americana, Robert La Follette:
“A nomeação de candidatos para a ocupação de cargos públicos é o fundamento do governo representativo. Se homens mal-intencionados controlarem as nomeações não é possível obtermos um bom governo. [...] Temos de [...] submeter todas as nomeações ao voto directo em eleições primárias. Estando as nomeações dos candidatos sob o controlo do povo [...] o titular de um cargo público não se atreverá a procurar a renomeação caso tenha [...] traído a confiança do público”.
Sim, isto foi proferido em 1912. Temos um longo caminho a percorrer? Então é melhor começarmos já a tratar do assunto.
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Obama e Blagojevich
Este vídeo pode ser útil para evitarmos uma leitura apressada do mais recente escândalo nos Estados Unidos, envolvendo o actual Governador do Illinois, Rod Blagojevich. Estando incumbindo de nomear um senador para ocupar a vaga deixada por Obama, Blagojevich ter-se-á envolvido em práticas gravíssimas de corrupção, oferecendo literalmente o cargo a quem lhe pagasse mais dinheiro.
Como se não bastasse este desplante - e mesmo sabendo que estava já a ser investigado por abuso de poder - Blagojevich terá exigido altas remunerações para a sua esposa, financiamento e apoios variados para a sua carreira política, entre outras benesses, ameaçando os "candidatos" que caso ninguém lhe pagasse o que pretendia, nomear-se-ia a si próprio.
Esta situação bizarra (reveladora de uma idiotice difícil de qualificar) foi aproveitada pelos sectores políticos mais à Direita para atacarem Barack Obama, referindo a sua relação com Blagojevich. Todavia, se é verdade que Obama foi conselheiro político de Blagojevich em 2002, desde então afastou-se quase completamente do actual Governador, que por sua vez lhe teceu violentas críticas públicas.
O vídeo acima sublinha justamente este dado, mostrando que este episódio não enfraquecerá Obama - bem pelo contrário, uma vez que um dos seus "adversários políticos" caiu em desgraça na opinião pública. Como refere o comentador da CNN, Obama tem mais razões para se sentir aliviado do que preocupado.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Um governo à deriva
domingo, 7 de dezembro de 2008
2012
Parece-me cedo para falar de nomes concretos, mas é possível tecer considerações sobre o perfil provável do candidato. Eu destacaria três vias, sendo que uma se tornará predominante na sequência do tipo de governação do Presidente Obama e do clima político da altura:
1) Os Republicanos viram-se para a ala mais populista e conservadora do partido, apostando na mobilização da base (um pouco como em 2000). Palin, o jovem promissor Jindal ou Huckabee seriam as hipóteses naturais.
2) A economia é o tema dominante da eleição. Os Republicanos preferem uma figura mais moderada, mas com credibilidade na área. Romney é o nome crucial. O antigo presidente da Câmara dos Representantes, Newt Gingrich, também seria um bom candidato.
3) O debate centra-se na segurança e na política externa. Obama teria falhado como "comandante-chefe" e os Republicanos apostam num discurso agressivo. Giuliani ou uma figura prestigiada do exército (o general Petraeus?) tornam-se os favoritos...
sábado, 6 de dezembro de 2008
A equipa de Obama (4)
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
O regresso dos Bush?
Citação do dia
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Eleições na Geórgia
Há vários motivos que o podem explicar, contudo. A máquina Republicana empenhou-se a fundo nesta disputa, depois da pesada derrota nas eleições gerais de 4 de Novembro, tendo figuras nacionais como Sarah Palin, Rudy Giuliani e o próprio John McCain feito campanha pelo senador Chambliss. Esse empenho traduziu-se numa boa mobilização do eleitorado tradicional, especialmente nas áreas rurais e nos subúrbios, onde Chambliss obteve excelentes resultados.
Os Democratas, pelo contrário, não foram capazes de reproduzir a notável mobilização do eleitorado afro-americano em 4 de Novembro, que deixou Obama apenas a 5% de McCain. Por outro lado, as condições políticas eram adversas: a Geórgia é um dos Estados mais conservadores da nação, Chambliss era um incumbente relativamente popular e Jim Martin arrancou demasiado tarde para a campanha, depois de umas primárias muito disputadas contra Vernon Jones.
Com esta vitória, os Republicanos garantiram uma minoria de bloqueio no Senado (41 lugares), independentemente de quem vencer a recontagem no Minesotta. Significa isto que poderão obstruir (filibuster) a votação de determinadas propostas prolongando indefinidamente o debate (os Democratas precisariam de 60 senadores para o evitarem). Este facto poderá assim exigir da Administração Obama uma grande capacidade de negociação com a bancada Republicana. Como referi antes, não é por acaso que o novo Presidente-eleito continua a dar sinais de pretender avançar com um gabinete e uma agenda política suprapartidários...
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Hillary Clinton, Secretária de Estado
1. Do ponto de vista da política objectiva é uma escolha excelente. Hillary tem um bom conhecimento de política externa; desempenhou durante vários anos (como Primeira-Dama) um papel importante na diplomacia americana, ainda que de forma "simbólica"; é conhecida pela maioria dos líderes internacionais, que a identificam com um período da história americana em que a palavra multilateralismo ainda queria dizer alguma coisa; e parece-me uma negociadora muito razoável.
2. Tomando-o como estratégia política é igualmente acertado. Obama parece ter-se inspirando no ideal "equipa de rivais", integrando uma potencial adversária na sua Administração e comprometendo-a por isso às suas próprias decisões. Com Hillary na Secretaria de Estado Obama silencia uma voz dissonante no Senado que poderia ser ensurdecedora por volta de 2012. De certo modo, esta jogada reproduz inteligentes manobras do passado, quando Abraham Lincoln juntou no seu próprio gabinete antigos inimigos políticos, ou quando Kennedy convidou o seu maior adversário na Convenção Democrata, o senador Lyndon Johnson, para fazer parte do "ticket presidencial" de 1960.
3. Por fim, a escolha de Hillary Clinton envia um importante e tranquilizador sinal político à opinião pública. Com efeito, Obama foi anteriormente atacado por ser demasiado liberal e estar dependente dos sectores mais à esquerda do Partido Democrata. A escolha de uma senadora moderada e experiente, ligada a uma das Administrações mais centristas dos últimos tempos, mostra que Obama pretende seguir uma agenda própria, que provavelmente reconciliará decisões estratégicas conservadoras com uma política socialmente progressista.
É certo que Obama pode ser acusado de estar a trair a mensagem de mudança que caracterizou a sua campanha, mas talvez mais importante que isso é difundir a ideia de que a Administração Obama se guiará por princípios moderados, racionais e ponderados, rompendo com um irresponsável passado recente.