O rumor tornou-se hoje uma notícia oficial. Trata-se evidentemente de uma escolha difícil de avaliar, pela persona política singular que é Hillary Clinton e pelo que tal decisão nos diz acerca de uma futura Administração Obama. Eu avançaria com três notas:
1. Do ponto de vista da política objectiva é uma escolha excelente. Hillary tem um bom conhecimento de política externa; desempenhou durante vários anos (como Primeira-Dama) um papel importante na diplomacia americana, ainda que de forma "simbólica"; é conhecida pela maioria dos líderes internacionais, que a identificam com um período da história americana em que a palavra multilateralismo ainda queria dizer alguma coisa; e parece-me uma negociadora muito razoável.
2. Tomando-o como estratégia política é igualmente acertado. Obama parece ter-se inspirando no ideal "equipa de rivais", integrando uma potencial adversária na sua Administração e comprometendo-a por isso às suas próprias decisões. Com Hillary na Secretaria de Estado Obama silencia uma voz dissonante no Senado que poderia ser ensurdecedora por volta de 2012. De certo modo, esta jogada reproduz inteligentes manobras do passado, quando Abraham Lincoln juntou no seu próprio gabinete antigos inimigos políticos, ou quando Kennedy convidou o seu maior adversário na Convenção Democrata, o senador Lyndon Johnson, para fazer parte do "ticket presidencial" de 1960.
3. Por fim, a escolha de Hillary Clinton envia um importante e tranquilizador sinal político à opinião pública. Com efeito, Obama foi anteriormente atacado por ser demasiado liberal e estar dependente dos sectores mais à esquerda do Partido Democrata. A escolha de uma senadora moderada e experiente, ligada a uma das Administrações mais centristas dos últimos tempos, mostra que Obama pretende seguir uma agenda própria, que provavelmente reconciliará decisões estratégicas conservadoras com uma política socialmente progressista.
É certo que Obama pode ser acusado de estar a trair a mensagem de mudança que caracterizou a sua campanha, mas talvez mais importante que isso é difundir a ideia de que a Administração Obama se guiará por princípios moderados, racionais e ponderados, rompendo com um irresponsável passado recente.
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
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3 comentários:
Caro JGA
Os rumores iniciaram-se ainda durante o grande duelo, que foi as primárias!
Todos nos lembramos, quando a imprensa anunciava a grande vitória de Obama perante Hillary Clinton. Mencionar na possível nomeação de Hillary, para vice-presidente. Confesso que me deixou com a sensação de que Hillary Clinton, depois de reconhecer tardiamente a derrota, ficasse com um prémio de consolação.
O de vice foi por água abaixo, apostando Obama na experiência e no apoio bem precisos para enfrentar as tumultuosas águas que não param de alagar a economia Americana.
Mas a imprensa, depois da vitória, sistematicamente lançava, o nome de Hillary para a ribalta dos meios políticos americanos, nomeado-a para cargos na equipa de Obama. Talvez esperando alguma confirmação, que chegou agora, nomeando-a Secretária de Estado.
Juntando isto mais o que JGA, excelentemente descreve. Leva-me a concluir que Obama, praticamente depois de vencer Hillary. Comprometeu-se a incorporar Hillary, na sua futura equipa, porque ter a família Clinton do seu lado no combate contra John McCain. Seria mais-valia para uma vitória histórica e mais importante na altura: a união dentro dos Democratas.
E acredito que Hillary sabia desde essa altura que seria a futura Secretária de Estado.
Pergunto: Hillary é senhora do seu nariz, com uma personalidade forte.
Superou escândalos mediáticos de proporções gigantescas, que a tornaram mais forte e lhe deram a força para atingir o seu lugar dentro da política Americana.
Perante tudo isto posso pressentir um braço de ferro com Obama em diversas decisões, que poderão pender para a senhora Clinton (não esquecer que o marido foi presidente por dois mandatos). O que poderá gerar um incomodo nada agradável para Obama abraços com o milagre que todos (liricamente) lhe pedem.
Caro Nuno, obrigado pelo comentário. Duas notas: penso que acertou na mouche quando referiu que isto terá resultado de um acordo prévio. A união dos Dems era crucial para a vitória (vide Ohio, Florida, Pensilvânia) e Obama sabia melhor que ninguém que incluir os Clintons na campanha era meio-caminho andado para a vitória.
2) Hillary é uma personalidade forte e isso pode trazer problemas. Tem toda a razão. Mas creio que também poderá ser benéfico, uma vez que a Administração Obama terá que lutar contra interesses instalados que requerem muito mais do que simples diálogo para serem combatidos...
Um abraço!
esta senhora não me inspira confiança. uma borrada do obama, penso eu.
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